“...Um dia tem que pagar”

Não sou afeito a acompanhar a editoria policial de nenhum veículo. Mas no dia 28 de novembro, fui seduzido pelas imagens da TV.
Por volta das 15h15 de domingo, no Complexo do Alemão, Rio de Janeiro, as câmeras mostram uma cena incomum e inquietante, ao menos sob minha ótica. Em meio a todo caos e espetáculo provocado pelos aparatos de guerra, um quadro chamou minha atenção e, em medida avassaladora, me quebrantou.

Até aquele momento, havia acompanhado o noticiário oscilando entre o otimismo e o pessimismo. Subi e desci na gangorra da fé e da incredulidade. Em alguns momentos, cria que toda operação podia, sim, lograr algum êxito. Noutros, acabava vencido por uma sensação de impotência e temor da impunidade alimentada pela corrupção.
Mas, no meio da tarde cáustica do domingo não escondo e não me envergonho do fato que me emocionei ao ponto de chegar às lágrimas. Nem eu acredito que chorei diante do noticiário policial.

A cena mostra um eletricista, Ivanildo Dias Trindade, de 55 anos, entregando à Polícia o seu filho Carlos Augusto Trindade, conhecido como Pingo. Embora estivessem totalmente cercados por repórteres e policiais, por um momento, só conseguia visualizar o pai e o filho.
Um turbilhão de perguntas e sentimentos varreu-me a mente a alma. Questionei-me sobre a intensidade e tamanho da dor que aquele pai devia estar sentindo por ter que entregar o filho à Polícia, para que ele não morresse.

Talvez aquele pai se questionasse onde errou para que a carne de sua carne tivesse se tornado um procurado pela Polícia. Bem pode ser que ele reconhecesse ter feito tudo o que podia para educar um homem de bem, mas por diversos motivos, o seu rebento estava ali, derrotado pelo crime.
Independente das respostas aos muitos questionamentos que devem ter surgido nesta hora, acredito que o amor foi o responsável para optar pelo mais drástico: a rendição. Um repórter perguntou ao sr. Ivanildo porque ele havia tomado aquela decisão.

A resposta veio com simplicidade e resignação: "Porque um dia tem que pagar, não é senhor? Se não fosse agora, será amanhã ou depois". Somente o amor teria forças de perdoar por todos os atos de desobediência do rapaz e lutar com todas as forças para que ele pudesse viver.
A uma voz todos queremos que Pingo e tantos outros paguem pelos erros cometidos. Não sei quantos, nem quais crimes constam de sua ficha policial, mas uma verdade não sai de minha mente: é um ser humano.
Errado? Sim. Digno de prisão? Sem dúvida. Digno de morte? Não! Ele precisa de vida. Aliás, o fato de ter funções vitais não significa que realmente saiba o que é viver. Bem pode ser que agora, entregue pelo próprio pai à Polícia, talvez, ele tenha a possibilidade de saber o que é vida de verdade.

O ato desesperado de seu pai talvez tenha dilacerado Carlos Augusto como nunca antes. Milhares de momentos de sua vida repleta de escolhas equivocadas devem ter passado em sua mente tal qual uma tela de cinema.
Detido pelos policiais, ele tentou secar o rosto das lágrimas que escorriam enquanto mantinha a cabeça baixa por causa da vergonha que devia gritar no seu ouvido: 'fracassado', 'derrotado', 'covarde'. Depois de toda valentia mostrada, talvez, na garupa de uma moto empunhando uma arma. Depois de todo terror que deve ter semeado, estava ali aterrorizado e aniquilado.

Não tenho a menor ideia dos desdobramentos que podem alcançar a história de Pingo e de Ivanildo, que tem lamentáveis semelhanças em muitas outras famílias. Contudo, tenho certeza que cada um pode contribuir um pouquinho para que outros milhares de 'Pingos' que existem por aí, ao serem aprisionados no corpo, conheçam de modo misteriosamente belo e poderoso a liberdade da alma.
Reconheço que não é tarefa fácil, mas entendo que, independente do credo, podemos desenvolver a compaixão.

Contagem regressiva

Faltam exatos 15 dias para comemoramos o Natal. Se considerarmos a zero hora deste dia 10 de dezembro de 2010, até a zero hora do dia 25, temos: 360 horas, 21.600 minutos, 1.296.000 segundos.
Como temos nos aperfeiçoado em estilo de vida individualista, os atos que implicam em comunhão, isto é, sentar à mesa e partir o pão seja ele material ou espiritual, têm sido sofríveis.

Sejamos francos e reconheçamos que não é fácil jantar e sorrir com aquela cunhada linguaruda que faz de tudo para criticar do cabelo ao sapato que você vestiu no casamento da prima.

Igualmente difícil é abraçar aquela sogra profissional em meter o bedelho nas discussões do casal, ou aquele irmão interesseiro que só sabe telefonar quando a maré não está para peixe.
Infelizmente, existem posturas piores que são construídas ao longo de toda uma vida e à medida que o papagaio vai ficando velho parece se tornar impossível qualquer crescimento espiritual e intelectual destas pessoas.

Ainda fico com nojo em saber que tem gente capaz de trocar beijos e abraços na virada de 24 para 25, mas no coração está dizendo que no dia 26 não tem sequer troca de sorrisos, quanto mais beijos e abraços.
Contudo, apesar das controvérsias em torno do Natal, prefiro atentar para este momento como uma oportunidade de aplicar colírio nos olhos e conseguir enxergar as pessoas além do que está aparente.

Neste momento de transição, é oportuno para que seja feita uma contagem regressiva não apenas para um abraço vazio e um beijo fingido cujos efeitos duram segundos.
É possível, embora não seja fácil, contar regressivamente e com expectativa pelo momento em poder olhar nos olhos do próximo e dizer: 'estou triste', 'fiquei magoado', 'não gostei do que você me fez'.

Se for preciso, chorar, reclamar, esbravejar. Contudo, uma vez externadas as amarguras, que o sabor doce do amor e do perdão, que são a razão primeira do Natal, preencham os abraços e beijos com uma paz e alegria como nenhum presente ou ceia fariam.
A contagem regressiva bem pode ser feita para momentos de purificação da alma por mais dolorido que eles sejam. Tal contagem não precisa sequer esperar o Natal chegar, pode acontecer a qualquer tempo, em qualquer lugar e com qualquer pessoa.
Se tivermos coragem para romper os grilhões que nos impedem de perdoar, vamos viver todos os dias com uma profusão de alegria tal qual a dos anjos que anunciaram aos pastores no campo o nascimento do Salvador.

O coro celestial tornou-se visível no mundo físico porque, naquele dia, o Criador do Universo dava um passo decisivo no seu plano de reconciliação com o homem. Tudo em razão do Seu amor e perdão inexplicáveis.
A celebração que já rasga milênios é resultado do trabalho de Deus que tem o desejo de abraçar a sua imagem e semelhança com a mesma alegria que o fazia antes de sua queda no jardim do Édem.
Que uma milionésima parte deste amor seja manifesto em nossas vidas de tal modo que seja possível viver um verdadeiro e profundo Natal que não dura segundos, mas repercute na eternidade.

Contagem Regressiva 2

Em mais algumas horas, a raça humana estará mobilizada nos quatro cantos do globo para comemorar o início de um novo ano. De acordo com a Física, o planeta Terra completará mais uma volta na sua cambaleante viagem em torno do Sol.
De repente, a sensação é de que um Réveillon 'colou' no outro. Parece que o intervalo entre um 1º de janeiro e outro está cada vez menor ou, pelo menos, transcorre numa velocidade cada vez maior.

O calendário com sua divisão de 12 meses, 52 semanas e 365 dias parece que não traduz mais a realidade. A abreviação de dias anunciada por Jesus, segundo a maioria dos teólogos, já é uma realidade irreversível. Isso, de acordo com o Messias, é o princípio do fim.
Felizmente, pela fé, é possível recorrer à esperança de que o amor de Deus não se esgota e, no final, tudo será concluído de modo a que a raça humana tenha sua existência restaurada e que Sua vontade boa, perfeita e agradável seja cumprida com rigor de detalhes.

Enquanto não chegamos ao limiar da história, vamos conduzindo nossas vidas de acordo com o melhor fruto de nossas reflexões e estudos à luz do que aprendemos nos livros, na transmissão oral feita pelos nossos anciãos ou na simples observação do cotidiano.
É bem verdade que nossas análises erram, e muito. Porém, não podemos fechar os olhos para os acertos. Tentamos acertar, nem sempre de forma lógica e racional, mas tudo o que fazemos, na verdade, tem o objetivo fazer o que é certo.

Queremos acertar na escolha do cônjuge, na educação dos filhos, na carreira profissional, na faculdade, na compra do carro, na construção da casa, na viagem de férias, na construção das amizades, enfim, ansiamos por acertar. Evidentemente, o alvo nem sempre é alcançado. Contudo, temos uma grande capacidade de renovação e, se escolhermos pela perseverança, podemos partir do zero, e simplesmente, recomeçar e bem.

Estamos na contagem regressiva para encerrar o ano. Aguardamos com expectativa o que os patrões vão decidir sobre os dias e horário de trabalho nos últimos dias do ano. Confabulamos sobre onde e com quem queremos passar a virada. Copacabana, avenida Paulista, Florianópolis, Caraguá, São Vicente, Ilha Bela, Salvador, Porto Seguro? Viagem com família ou com amigos? Praia ou camping? Leva a sogra ou finge que a esqueceu depois que já tiver percorrido uns 100km da viagem?
Enfim, estamos contando nos dedos as horas para descansar do labor de mais um ano e receber com a melhor disposição possível o novo ciclo de 365 dias.

Para a virada, existem diversos rituais que são repetidos em maior ou menor escala: vestir cores de acordo com o que se deseja; comer este ou aquele prato que pode significar o desejo de mais riqueza ou mais saúde; tomar banho de mar; ver a primeira nascer do Sol, entre outros.
Contudo, entendo que o que realmente importa é exatamente o que pouco nos preocupamos em arquitetar: as nossas relações com Deus, consigo e com o próximo. Temos sempre muitas ideias relacionadas a questões materiais, mas refletimos pouco ou sequer analisamos a possibilidade de rever os nossos relacionamentos de modo a remodelá-los, aperfeiçoá-los e aprofundá-los.

Oxalá façamos uma contagem regressiva para erguermos pontes, e não muros, com o maior número possível de pessoas. Que sejamos céleres como corredores de 100m livres para perdoar, encorajar, confortar, unir, servir e, sobretudo, amar.
Que tenhamos pressa em viajar rumo ao coração uns dos outros, sem nenhuma pretensão de ir embora, sem medo de dar e receber.

'EUquipe'

Durante o julgamento de Jesus, a narrativa bíblica feita pelo evangelista Mateus cita uma passagem curiosa com a mulher de Pilatos. Sem nome, sem genealogia, sem origem, sem destino pelo menos no texto bíblico, ela aparece dizendo a Pilatos: "Não entres na questão desse justo, porque num sonho muito sofri por causa dele." (Mt. 24.19).

Mesmo sem ter mais detalhes sobre o que ela teria sonhado, vale ressaltar sua prontidão em se aproximar do marido e apresentar sua solicitação. Os registros históricos apontam o nome desta mulher como sendo Cláudia Prócula.
Embora Pilatos, presidente da Judeia, não fosse lá flor que se cheirasse, junto com a mulher, seus escravos e, provavelmente, alguns vassalos formavam uma equipe. Como integrante da mesma, a esposa resolveu dar uma recomendação ao marido para não fazer mal a Jesus, isto é, não condená-lo à morte.

Por fatores que transcendem o jogo político presente no julgamento e condenação do Mestre da Galileia, Pilatos não quis ou realmente não pode dar atenção ao conselho da mulher.
Num gesto teatral, lavou as mãos diante da multidão. Segundo a tradição, Pilatos ele teria ficado neurótico a tal ponto que tempos depois, sempre pedia água e bacia para lavar as mãos até cometer suicídio, em 37 d. C., após cair em desgraça junto ao imperador Calígula.

A morte do Cristo era um fato inevitável. Com ou sem Pilatos, com ou sem pedido de sua mulher, o Cordeiro de Deus, segundo exclamou João, o Batista, iria morrer no lugar dos homens para poder cumprir o plano de reconciliação com o Criador.
Contudo, o incidente familiar sugere algumas reflexões. Infelizmente, muitos membros das equipes familiares ouvem a todos, exceto a quem interessa.

O marido acha sempre a mulher uma tonta. Esta por sua vez, acha-o um turrão. Os filhos acatam o que diz qualquer marginal, mas quanto ao que diz seus pais ou são reticentes ou absolutamente desobedientes. E mesmo os pais, jamais se permitem ouvir o que estão dizendo os seus principais atletas: os próprios filhos.
Sob estas condições, o que deveria ser uma equipe, torna-se uma 'EUquipe'. Ou seja, 'quem sabe de tudo sou eu', 'ninguém manda na minha vida', 'eu sei mais e melhor que todo mundo'. Tudo é pensado, falado e feito conforme interesses individuais, com propósitos nada louváveis.

Este 'egocentrismo' tem gerado verdadeiros monstros no seio da família que, inevitavelmente, estendem seus comportamentos em outros grupos sociais. Assim, encontramos na igreja, na escola e no trabalho pessoas que sofrem com o mesmo mal de Pilatos e jamais dão atenção para orientações que são muito mais fáceis de serem cumpridas do que as escolhas alopradas de quem prefere viver segundo regras da 'equipe-de-um-homem'.

Em uma sociedade machista, é fácil o marido se posicionar como o incontestável. Em uma sociedade que valoriza a opulência e a ostentação, é fácil um líder acreditar que todos os seus liderados são xucros demais para contribuir com ele. 
Até mesmo em grupos religiosos, onde o que se deve procurar vivenciar é a humildade ensinada e praticada pelo Cristo, o que se vê com relativa facilidade e frequência é o comportamento diametralmente oposto com a desculpa torpe de que existem aqueles que 'têm mais acesso ao céu do que outros'.

Quem forma as 'EUquipes' por aí, até se ilude com um pseudo sucesso que vem disfarçado de bajulação e fama. Pelo engano que toma o líder da 'EUquipe', passa-se até a acreditar que é possível dominar uma massa. Mas, no fundo, é uma pessoa que não domina sequer o próprio espírito.
Sejamos, pois, membros de boas equipes reconhecendo sempre que todas as pessoas do menor ao maior, do mais rico ao mais pobre, do livre-docente ao analfabeto, todos são indispensáveis para o progresso desde a família, até de um país.

Se Deus sabe tudo, por que oramos?

A oração existe para desfrutarmos a companhia de Deus


O escritor escocês George MacDonald (1824 - 1905) escreveu:
 
"Se Deus, porém, é tão bom quanto você o pinta, se ele sabe tudo o que precisamos, e muito melhor que nós, por que seria necessário pedir-lhe alguma coisa? Respondo: E se ele sabe que a oração é a coisa de que mais necessitamos e com a maior urgência? E se, na concepção de Deus, o objetivo principal da oração é suprir nossa mais ampla e incessante necessidade, a necessidade dele? A fome pode levar a criança fugitiva de volta para casa, e ela talvez não seja alimentada de imediato, pois precisa mais da mãe que do jantar. A comunhão com Deus é a necessidade da alma que está acima de todas as demais necessidades: a oração é o começo dessa comunhão, e certa necessidade é o motivo dessa oração. Assim tem início a comunhão, uma conversa com Deus, um processo de união com Ele, que é o propósito da oração."
 
Acredito que o texto entre aspas fale por si só, mas, como de costume, preciso dar o meu 'pitaco'. Concordo em gênero, número e grau com o poeta escocês. Embora vivamos numa sociedade em que as relações são estabelecidas pelo poder de troca, acredito que sempre seja possível elevar o nível da comunicação e aprofundar os relacionamentos.
Infelizmente, somos formatados a acreditar que as pessoas só são interessantes caso elas tenham algo para oferecer. Nossa mente tem uma cantiga de "me-dá me-dá" que parece nunca parar de tocar.

Somos estimulados ao consumo não por precisarmos, mas apenas pelo simples prazer de dizer que ganhamos ou que possuímos isto ou aquilo. Via de regra, até nos esquecemos facilmente de quem deu o que tanto desejávamos, e o que recebemos se torna mais importante que quem o deu.
Essa relação corrompida, com elevada frequência, é estabelecida também com o Autor da Vida. Só nos preocupamos em voltarmos para Deus quando 'a coisa fica preta!'. Por Ele ser infinitamente Bom e Misericordioso, somos atendidos no pedido do emprego, da cura física ou mental, entre outras petições. Se não somos atendidos, até blasfemamos.

É exatamente aqui que erramos feio. Deus estabeleceu a oração não como o momento do pedido, mas, sim, como o momento do encontro. O que Ele realmente quer, é poder desfrutar da nossa companhia e nós da dEle.

Visualizo a oração como aqueles momentos em que os casais apaixonados admiram o pôr-do-sol sem dizer uma palavra, mas apenas desfrutam da companhia mútua.
Deus tem prazer em cuidar de nós. Como disse certo pregador: "Ele tem prazer em presentear seus filhos." Mas, todas as coisas que muitas vezes insistimos em dar prioridade, na verdade, são secundárias.

O que realmente importa é o poder nos enamorarmos de Deus. Isto é, estabelecer uma relação de intimidade, troca, cumplicidade, sonhos compartilhados, entre outras maravilhas de um relacionamento sadio e profundo. Acredito que a oração exista para desfrutamos o que mais precisamos: a companhia de Deus. Experimente.

Novos tempos, velhos hábitos

Em novos tempos para a República Federativa do Brasil com a eleição de Dilma Rousseff para presidente, vale a pena relembrar o trecho de uma circular, datada de 1794, direcionada aos funcionários públicos da França.
Embora já tenhamos percorrido 216 anos de história, infelizmente, o que a circular francesa preconizava ainda está longe de ser uma realidade na maior parte das nações instituídas e, em especial, na antiga colônia portuguesa.
O trecho abaixo é citado na obra "A linguagem da política", de Harold Lasswell e Abraham Kaplan, publicado pela EUB, em 1979.
Eis a peça:
"O funcionário público, acima de tudo, deve desfazer-se da roupagem antiga e abandonar a polidez forçada, tão inconsistente com a postura de homens livres, e que é uma relíquia do tempo em que alguns homens eram ministros e outros, seus escravos.
Sabemos que as velhas formas de governo já desapareceram: devemos até esquecer como eram. As maneiras simples e naturais devem substituir a dignidade artificial que frequentemente constituía a única virtude de um chefe de departamento ou outro funcionário graduado.
Decência e genuína seriedade são os requisitos exigidos de homens dedicados à coisa pública. A qualidade essencial do Homem na Natureza consiste em ficar de pé.
O jargão ininteligível dos velhos ministérios deve dar lugar ao estilo claro, conciso, isento de expressões de servilismo, de formas obsequiosas, indiretas e pedantes, ou de qualquer insinuação no sentido de que existe autoridade superior à razão e à ordem estabelecida pelas leis - um estilo que adote atitude natural em relação às autoridades subalternas.
Não deve haver frases convencionais, nem desperdício de palavras."
O texto continua válido para a esmagadora maioria das pessoas que ocupam repartições públicas em pleno século XXI.
Mesmo passados dois séculos de redação da circular, ainda se desconhece o que são as maneiras simples e naturais, decência, genuína seriedade, clareza, isenção de expressões servis. Isso nos menores níveis do organograma do poder público. Quanto mais se 'eleva' a função, pior fica o entendimento.
Quem ocupa cargo eletivo, nos tempos que chamamos modernos, se parece mais com discípulos aplicados dos tipos de governantes que deveriam ser esquecidos em suas formas de governos e não imitados ao pé da letra.
Prefeitos, vereadores, deputados, governadores, senadores, presidentes da República, embora sejam apenas funcionários públicos com respeitáveis salários, mais se parecem com os reis e rainhas que dominavam à revelia do povo e que a este mesmo povo que os aclamava tratavam como lacaios.
A circular bicentenária apresenta traços do que se convencionou chamar de "cidadania" tal qual idealizada pelos gregos na Grécia antiga. Contudo, esta cidadania ainda não foi sequer entendida, quanto mais exercida pela imensa maioria da população mundial.
O texto tem um tom levemente jocoso acerca das ideias que, naquele momento da Revolução Francesa eram consideradas superadas e dignas de esquecimento. "Sabemos que as velhas formas de governo já desapareceram: devemos até esquecer como eram." Critica-se aqui o poder absolutista dos reis, por exemplo, que nesta época já não tinham a hegemonia da aceitação popular e nem contavam com unanimidade entre os membros das cortes.

A observação do passado sempre serve para que se possa agir melhor no presente e, assim, ter um planejamento mínimo para o futuro. Contudo, a maior parte dos nossos governantes, em todas as esferas, são ignorantes o suficiente para sequer conhecer os valores éticos e morais que deveriam ser intrínsecos de suas personalidades. Se não têm conhecimento ou não reconhecem sua importância, como poderão exercê-los?
 

Serra e eu

Eu também não gosto do Serra, mas meu voto é dele. Eu também acho o presidenciável tucano antipático, de sorriso amarelo, por vezes, arrogante. É claro que essa leitura é de alguém que nunca trocou sequer um 'bom dia' com ele.
Já fiquei num estado de nervos alteradíssimo quando, em 2008, Serra sinalizou que viria na inauguração da escola estadual Elza Facca, em Botujuru, e na última hora não veio. Fiquei tão virulento, que quando ele compareceu na assinatura de convênio para instalação da escola técnica, também em Botujuru, sequer quis ir ver.

Quando se tornou candidato à presidência, tive que por meus ressentimentos de lado. Nesta hora, as minhas birras como cidadão e eleitor perdem totalmente a importância diante de questões que dizem respeito ao futuro do meu município, Estado e país.
Não posso decidir meu voto simplesmente por achar o fulano mais bonito ou feio, de sorriso mais fácil ou de cara feia. Não posso votar em função de ter ou não afinidades com este ou aquele. Quando preciso decidir para quem vai o meu precioso voto, tenho que por na mesa muito mais que justificativas emotivas, preciso recorrer a justificativas racionais, ou seja, aquelas que podem ser testadas e aprovadas.

Não posso decidir voto por sentimento, emoção, feeling ou qualquer outro nome que se dê. Tenho que decidir voto considerando propostas, experiência e competências de quem propõe. Recentemente, ouvi um grupo de professoras dizerem: 'não voto no Serra porque se não esse país para'. Engraçado.... Há exatos 191 dias, Serra estava à frente do governo de São Paulo. Conduzia com maestria a unidade federativa mais potente da República. Até onde sei, se é que não fui abduzido, o Estado não parou. Pelo contrário, continua com o status de potência econômica nacional e com índices de crescimento em todos os setores.

Há quem reclame que o Serra criou pedágio demais. Também não gosto de pagar R$ 10 para ir a Cabreúva-SP e voltar, mas gosto de ter uma estrada bem pavimentada, segura e com suporte para qualquer emergência. E, infelizmente, isso não seria possível sem o tal pedágio. É fácil ficar na trincheira e criticar pejorativamente ao ex-governador, mas é difícil avaliar racionalmente as próprias críticas.
Alguns grupos da sociedade levantam a bandeira de que a progressão continuada é o grande mal do governo tucano. Será? Os petistas dizem que resolveriam isso no Estado. Acho engraçado que as Universidades Federais, onde o governo Federal tem influência direta, também se queixam de sucateamento. Se saberiam como resolver a educação básica paulista, porque se atrapalham para elevar a qualidade do Ensino Superior?

Para quem diz que Serra pararia o Brasil, e mora na região Campo Limpo Paulista -há 60km de São Paulo-, vale lembrar que graças à sua percepção dos temas realmente importantes e coragem para tomar as medidas certas, o rio Jundiaí ganhou esperança de voltar a ser limpo e vivo com a construção do Sistema Integrado de Esgotos. A obra, prevista para ser entregue em janeiro de 2013, vai melhorar o saneamento básico em toda região. Com melhor saneamento, há mais saúde.
Com um custo de R$ 112 milhões, seria impossível para Campo Limpo e Várzea Paulista executarem projetos desta dimensão sem a intervenção do governo estadual. O custo da obra corresponde a todo o dinheiro do orçamento de 2010 que a prefeitura de Campo Limpo teve para pagar todas as suas despesas.
Por esses e outros fatores, não adianta eu não gostar da careca do Serra. Tenho que gostar mais, aliás, tenho que amar mais ao meu país, meus patrícios e meus herdeiros.

Medida de sucesso

Com elevada frequência, acredita-se que o sucesso é mensurável pela régua da bajulação. Quanto mais cumprimentos, elogios e 'babações' se pode ouvir, mais acredita-se que o sucesso chegou.
Esta medida é boa e verdadeira para quem não gosta de encarar os fatos, assumir os próprios erros, reconhecer as limitações, rever conceitos e valores. A bajulação é o melhor anestésico do incompetente e covarde.

E essa covardia não diz respeito ao que se faz com os outros, mas o que não se faz consigo mesmo. Isso porque o covarde tem muita pressa e grande habilidade para apontar e acusar.
Quem mede o sucesso pela régua da bajulação, só sabe dizer que os outros estão errados. Neste sentido, o pseudo-herói tem coragem ímpar para 'detonar'.

Entretanto, a coragem some como vapor quando se trata de apontar o dedo inquiridor para o próprio reflexo e praticar o difícil exercício da autocrítica.
Contudo, não quero tanto me deter no fracassado que condena, persegue, oprime e sufoca aos outros. Quero poder pensar na outra forma de medir o sucesso.
Pode parecer antagônica, melancólica ou até o discurso de um frustrado. No entanto, ouso dizer que é apenas um aprendizado que vem no curto espaço de tempo que chamamos de vida ou, se preferirem, apenas uma experiência.

O sucesso é realmente medido pela intensidade e frequência com que se é acusado, perseguido, caluniado, oprimido, silenciado, negligenciado, humilhado, esquecido, desprezado e tantas outras expressões dos sentimentos alheios que indicam, em maior ou menor grau, o quanto o sucesso realmente está sendo alcançado.
Um adágio popular afirma que 'só se atira pedras em árvore que dá frutos'. Contudo, quando as pedradas chegam, sejam elas de qualquer mão, é muito difícil o entendimento de que elas serão boas e que, em algum momento, terão alguma utilidade.

No primeiro momento e diria até que muitos momentos depois, reclamamos, esbravejamos, às vezes, até blasfemamos contra Deus perguntando 'por quê?'. Num instante de loucura, chegamos a afirmar que o Pai nos teria abandonado.
Todavia, se as pedradas não param de nos atingir, se o risco de sermos árvores cortadas parece sempre iminente, essa é uma excelente forma de medir o sucesso e perceber que alguma coisa boa está sendo possível fazer.
Em geral, por causa das feridas formadas pelas pedradas e punhaladas, perde-se a percepção de quantas coisas boas está acontecendo em nós e através de nós.

Esta não percepção dos resultados vem como parte da nossa própria limitação, mas parece ser um mecanismo que o Criador desenvolveu para evitar que nos tornemos arrogantes e soberbos.
Se conseguíssemos sempre saber o tamanho do bem que fizemos, quer às pessoas que estão perto ou que estão longe, correríamos sério risco de nos tornarmos megalomaníacos.

Mas se as pedradas que podem se manifestar como traições, armações, falcatruas, entre outras mazelas, nos trazem alguma dor, é bom pensar no fato de que para cada pedrada, é possível subir um degrau na escala do que é o sucesso realmente.
Quem é bajulado experimenta uma fama efêmera e, logo que mudar de posto ou for substituído, em pouco tempo não se saberá mais quem foi ou o que fez. Já o perseguido pelos bons frutos que produz, nem mesmo a morte consegue suplantar sua influência, apagar sua memória e extinguir os seus frutos.

Os mineiros nossos de cada dia

Resgate dos mineiros é uma lição para o mundo

Após 68 dias sem ver a luz do sol e tendo sido dados como mortos por pelo menos 17 alvoradas, os 33 mineiros que estavam a 620 metros de profundidade, no meio do deserto mais seco do mundo, o do Atacama, na Mina de San José, há 45 km da cidade de Copiapó, no Chile, têm um cântico de vitória que deve celebrar a vida.
As referências geográficas parecem nos remeter a lugar algum. De fato, milhões de espectadores, leitores e ouvintes de todo o mundo que acompanharam cada etapa do resgate dos mineiros nunca foram e jamais deverão ir ao local. No entanto, do meio do nada, os habitantes do globo terrestre têm a possibilidade de fazer inúmeras reflexões com o exemplo de garra e determinação que emanam desta linda história.

O próprio presidente chileno, Sebástian Piñera, afirmou que o "Chile não é o mesmo país de 69 dias atrás". Isso reflete um pouco das grandes lições que se pode extrair do 'renascimento' dos mineiros. Vi e ouvi diversos depoimentos de pessoas que se transportaram para o acampamento de resgate. Em um determinado momento, não importava que não tivesse nenhum patrício sob os escombros, o fato mais importante é que também são imagem e semelhança do Criador.

Embora os protagonistas da história sejam os mineiros, outros personagens deste episódio deixam importantes lições. Merece destaque o clima de 'grande família' propiciado pelas esposas, filhos, pais, amigos e centenas de profissionais envolvidos.
Repórteres admitiram ser tratados pelos parentes dos mineiros como membros da família. Sem dúvida, um momento esplêndido para as centenas de jornalistas de todo o mundo que foram enviados ao local para monitorar todo o trabalho.
A disposição de profissionais de todo o mundo no resgate também foi fundamental para o êxito da operação. A mobilização incluiu desde uma equipe da Nasa até um engenheiro norte-americano que saiu direto do Afeganistão para o meio do nada chileno.
Uma multidão de pessoas teve que doar um pouco mais de tempo, talento, experiência para não permitir que sonhos, aspirações e projetos dos 33 homens e suas famílias acabassem.

Este resgate dramático e pleno de sucesso fez minha mente viajar em outros resgates que precisamos fazer todos os dias. Exatamente neste momento, talvez no quarto ao lado, na divisão da empresa, sentado no banco de uma praça, deitado no leito de um hospital, atrás de um caixa de supermercado, enfim, em múltiplas funções e lugares, há alguém que, embora o corpo não esteja no fundo do poço, a alma está escondida em alguma caverna sem expectativa de sair.

Os motivos que os levaram ao fundo do poço são múltiplos. Vão desde drogas à perda de um ente querido. Podem ter vivido terremotos que soterraram sonhos, projetos e visões. Alguns podem estar submersos no poço do ostracismo, do esquecimento, da solidão por escolhas erradas, por não ter ouvido o conselho do pai ou da mãe, por ter se isolado sistematicamente dos amigos, enfim, os motivos para cair são tão variados que não cabe citar aqui.

O que realmente importa é o quanto nos esforçamos para tirá-los de lá. Sempre há algo que possamos fazer: uma oração, um estender das mãos, um emprestar de ombro para que se faça um desabafo, um sorriso, um abraço, qualquer gesto que indique estarmos em comunhão, isto é, comendo na mesma mesa um pão que não é produzido entre os homens, mas que vem fresquinho da parte de Deus.
Foi do fundo do poço que Cristo se propôs a retirar a humanidade quando deu a sua vida em lugar dos pecadores. O Filho de Deus pagou o preço do resgate. Embora não possamos chegar ao valor pago pelo Messias, podemos nos empenhar, juntar todos os nossos esforços, talentos, conhecimentos e habilidades para que os semelhantes à nossa volta sejam alcançados por cordas de amor.

O que se quer, depende do que se faz

O país que queremos, depende dos representantes que temos

Há algum tempo recebi um e-mail com afirmações incômodas. Há apenas dez dias para que a sensação de satisfação ou arrependimento seja semeada pelo período de quatro anos, acho oportuno relacionar os tópicos que me parecem socos impiedosos no estômago, tal a frequência com que vemos o que é afirmado.
Infelizmente, temos um grande número de patrícios que em maior ou menor medida, com maior ou menor regularidade já fizeram o que segue:
1) Saqueia cargas de veículos acidentados nas estradas;
2) Estaciona nas calçadas, muitas vezes debaixo de placas proibitivas;
3) Suborna ou tenta subornar quando é pego cometendo infração;
4) Troca o voto por qualquer coisa: areia, cimento, tijolo, dentadura;
5) Fala no celular enquanto dirige;
6) Trafega pela direita nos acostamentos num congestionamento;
7) Para em filas duplas, triplas em frente às escolas;
8) Viola a lei do silêncio;
9) Dirige após consumir bebida alcoólica;
10) Fura filas nos bancos, utilizando-se das mais esfarrapadas desculpas;
11) Espalha mesas, churrasqueira nas calçadas;
12) Pega atestados médicos sem estar doente, só para faltar ao trabalho;
13) Faz "gato" de luz, de água e de TV a cabo;
14) Registra imóveis no cartório num valor abaixo do comprado,
        muitas vezes irrisórios, só para pagar menos impostos;
15) Compra recibo para abater na declaração do imposto de renda para pagar menos imposto;
16) Quando viaja a serviço pela empresa, se o almoço custou R$ 10 pede nota fiscal de R$ 20;
17) Comercializa objetos doados nas campanhas em favor de flagelados por tragédias;
18) Estaciona em vagas exclusivas para deficientes;
19) Adultera o velocímetro do carro para vendê-lo como se fosse pouco rodado;
20) Diminui a idade do filho para que este passe por baixo
        da roleta do ônibus, sem pagar passagem;
21) Emplaca o carro fora do seu domicílio para pagar menos IPVA;
22) Leva das empresas onde trabalha, pequenos objetos como clipes,
        envelopes, canetas, lápis.... como se isso não fosse roubo;
23) Comercializa os vales-transporte e vales-refeição que recebe das empresas onde trabalha;
24) Quando volta do exterior, nunca diz a verdade quando o
        fiscal aduaneiro pergunta o que traz na bagagem;
25) Quando encontra algum objeto perdido, na maioria das vezes não devolve.

A lista se estende, mas paro por aqui. Já deu vergonha alheia. De qualquer forma, vale lembrar que, quer de modo consciente ou inconsciente, os representantes eleitos pelo povo saem do próprio povo e, via de regra, têm os hábitos acima, acrescidos de alguns piores.

Se quisermos um país melhor, precisamos ser cidadãos melhores, que escolhem com cautela e razão, e não mera emoção, aos brasileiros que serão nossos representantes.

Indignação

Frequentemente sofro com os processos eleitorais. Os motivos para isso são vários: poluição sonora e visual, sujeira nas ruas, caixas de correspondências entupidas, papéis, promessas, picaretagem profissionalizada e outras mazelas que são justificadas como 'parte do processo democrático'.
A cada eleição, ao contrário do que alguns insistem em dizer, sinto-me remando contra a maré. Tenho a sensação de que ao invés de avançarmos no exercício desta tal democracia, tenho a nítida percepção de que paramos, ou, o que é pior, passamos a andar para trás numa velocidade incrível.

O pleito deste ano parece que está reforçando meu sentimento de fraqueza, impotência, indignação e, talvez, da minha própria incompetência como cidadão. Os motivos para esse caldeirão de sentimentos são múltiplos. Vejamos:
1) O número de artistas-candidatos multiplicou como nuvem de gafanhotos;
2) O horário para propaganda partidária no rádio e na TV se tornou um mega circo eletrônico, com figuras como Tiririca e o candidato do "peroba neles";
3) Tem até atriz pornô como candidata a deputada federal por São Paulo!;
4) A falta do mínimo de qualificação para os candidatos. É possível encontrar até analfabetos entre eles!

Quanto a este último tópico, sem nenhum exagero de linguagem, sinto subir um ardor pelo pescoço de tanta raiva quando lembro que não é preciso ter nenhuma qualificação para chegar a cargos que definem o futuro de milhões de pessoas.
Este ano, dos 19.458 candidatos, quatro são analfabetos; 109 apenas lêem e escrevem; 658 têm Ensino Fundamental incompleto; 1.427, Ensino Fundamental completo; 667, Ensino Médio incompleto; 5.245, Ensino Médio completo; 2.078, Ensino Superior incompleto; e 9.270, Ensino Superior completo. Ou seja, a maioria –mais de 50%– parou no meio do caminho quando o assunto era estudar.

Ora, para ser engenheiro, são necessários ao menos cinco anos de estudos, muitos livros e muitas horas de estágio com todas as comprovações possíveis. Depois de muito tempo como estudante ou estagiário explorado e muito dinheiro aplicado para tentar 'ser alguém na vida', o ganho médio de um engenheiro é de R$ 5.096,50 por mês.
Embora o Supremo Tribunal Federal tenha abolido a obrigatoriedade do diploma para exercer a profissão de jornalista, as empresas jornalísticas que são sérias vão continuar optando por profissionais que cursam ou cursaram Comunicação Social com enfoque em Jornalismo.

Ao contrário dos engenheiros, jornalistas e outras centenas de profissões que só podem ser exercidas por quem fez curso superior, pós-graduação, especialização, mestrado ou coisa que o valha, para ser deputado, senador ou presidente da República não é preciso estudar! É o caminho mais fácil para fazer um pé de meia sem ter que enfiar a cara nos livros.
Mesmo assim, o último aumento dos soldos dos legisladores nacionais, aprovado em 2007, determinou um aumento de 28,53%. Assim, o salário deles passou de R$ 12.847,20 para R$ 16.512,09. Eles ganham mais que o presidente da República que recebe R$ 11.420,21. Isso, sem contar outros valores que são para 'ajudar' o pobre legislador a fazer o que eles chamam de trabalho.
Cada congressista chega a custar R$ 100 mil por mês. Só para estimular o cálculo, é bom lembrar que são 513 deputados federais e 81senadores. Faça as contas.

Apesar de tudo, o que nos resta é estudar (e muito) para fazermos mais pelo país do que esses indivíduos que vendem competência, contudo, são a materialização da inoperância.
 

Quando aprender vira dom

Acredito, piamente, na igualdade de capacidades entre as pessoas. Independente de idade, sexo, raça ou qualquer outra diferenciação entre os seres humanos, todos são capazes de aprender. Pode ser que ocorra uma diferença de tempo e modo de aprendizado de um para o outro. Um pode captar mais informação pelo que ouve, outro pelo que vê, outro pelo que sente.

Por isso, quando se está tentando ensinar alguma coisa a alguém é necessário tentar apelar com recursos que agucem a audição, a visão, o tato e, se possível, até o olfato e o paladar. Esses últimos, quando não é possível dar alguma coisa para cheirar ou experimentar, apelamos para a memória e dizemos algo como: "Lembra o cheiro de....", ou "Tem sabor de...".

Os recursos para ensinar são aprimorados pelo bom professor. Não interessa se a "aula" é no ambiente acadêmico convencional (sala de aula, carteiras enfileiradas, quadro, giz e, mais recentemente, computadores), ou na cozinha de casa, no pomar do vovô, na mesa da diretoria. Em todo lugar sempre é necessário ter alguém ensinando algo e sempre terá aquele precisando aprender.
Quem vive de ensinar, vai aprimorando as técnicas e se torna quase um ator sob a ribalta. Gestos, expressões, caras e bocas, entonação da voz, tudo vai compondo o quadro do ensino.

Quando o conteúdo é algo do tipo 2 + 2 = 4, cada indivíduo impõe a si mesmo um método de observação e um ritmo de estudo que garantem aprender a fazer essa e outras contas. Especialmente quando o cálculo é com dinheiro.
Contudo, existem alguns conteúdos que parecem elevar a capacidade de aprender a um dom raro. É como se, de repente, aprender não fosse tão igualitário quanto é. Ou seja, sobre determinados assuntos, algumas pessoas simplesmente não conseguem colocar na cabeça como funciona.
São aprendizados que poderiam ser assimilados e praticados em diversas áreas da vida, especialmente no que diz respeito aos muitos relacionamentos que precisamos estabelecer ao longo da breve vida.

Parece que aprender é um dom para os maridos que não prestam atenção naquilo que é dito por suas mulheres. Pilatos fez o mesmo, e diz a tradição que morreu louco. Ou quando um tenta prevalecer sobre o outro ao invés de se completarem, como planejou o Criador.
Aprender vira dom, quando o patrão faz questão de tripudiar sobre o funcionário, tentando fazê-lo se sentir menor e incapaz. O mesmo ocorre se o empregado tenta ganhar o dinheiro nas costas do patrão sem produzir de acordo com a função para a qual foi contratado.

A capacidade de aprendizado parece virar dom, quando insistimos em viver como se fôssemos ilhas, ou seja, isolados de tudo e de todos. Deus não nos fez para a solidão. Ele nos dotou de necessidades que só podem ser supridas na comunhão com o próximo.
O abraço, que só pode ser dado se envolver pelo menos duas pessoas, ilustra a necessidade que temos uns dos outros. Quantas vezes um abraço fala mais que mil palavras? Em tantos momentos não sabemos o que dizer para uma pessoa, mas com um simples e poderoso abraço é possível dar nova motivação, trazer alívio, conforto, refrigério.

Mesmo assim, muitas vezes insistimos na tolice de afirmar que não precisamos de ninguém. Se o fazemos, não passamos de alunos negligentes que querem abafar as melhores lições da vida. Podemos e devemos aprender mais uns com os outros. E isso não significa dizer que só aprendemos com quem pensa ou age igual a nós. Grandes lições da vida são dadas exatamente pelos que nos são diferentes.

A verdadeira esperança faz produzir

O dicionário Houaiss traz a seguinte definição para o verbete esperança: "sentimento de quem vê como possível a realização daquilo que deseja". Ao contrário do que se defende por aí, a esperança não é um sentimento que induz ao comodismo e passividade. A verdadeira esperança impulsiona as pessoas para frente.
Há um adágio popular com o qual tenho algumas restrições: "quem espera sempre alcança". Se esta espera é do tipo, 'vou ficar sentado até cair do céu', está errado! Esta espera que acomoda, provoca estagnação, improdutividade, dependência, entre outros problemas, além de trazer danos ao preguiçoso, tem consequências diretas e indiretas para as pessoas que o cercam.
Quem está diretamente ligado ao preguiçoso –parentes, amigos, colegas de trabalho– são atingidos em cheio por sua espera nociva. Em casa, aquele que faz uso de uma falsa esperança cria todas as condições para que a família passe por privações.  Não demora faltar condições para trocar o guarda-roupa das crianças, comprar o calçado novo, consertar a goteira do telhado, tampar o buraco por onde passam os ratos, entre outras situações.
No trabalho, o falso esperançoso sempre posterga sua obrigação na esperança de que alguém vai fazer em seu lugar. Faz mal o seu trabalho, ou melhor, não o faz e ainda prejudica os outros colegas que precisam correr atrás do prejuízo.
Na roda de amigos, quem vive de uma pseudo-esperança, é o tipo que instala uma bombinha no pulso dos amigos e consome todo sangue possível. Quando a vítima desperta e acaba com as expectativas do parasita, logo o amigo 'tão querido' se torna um inútil, infame, malvado, entre outros rótulos.
Se abrirmos o campo de visão, vamos perceber que o falso esperançoso prejudica a sociedade de uma forma geral. As relações indiretas que ele estabelece também são atingidas por sua falsa esperança. Por 'esperar cair do céu', o acomodado acredita que os governos têm obrigação de colocar o dinheiro na conta, a comida na mesa e a roupa no armário.
Para que não digam o que eu não disse, deixo claro que os governos devem, sim, trabalhar pela promoção do bem-estar e inclusão social de todos os cidadãos que integram o seu campo de atuação. Entretanto, isso não significa que uns devem trabalhar, enfrentar o sol escaldante, estudar por anos a fio e, no frigir dos ovos, ter que bancar a incompetência e preguiça de quem apenas tinha uma falsa esperança de que tudo daria certo sem o mínimo de empenho.
Se o sol nasceu para todos, logo, todo mundo pode, com base na sua esperança, produzir. Se o agricultor simplesmente esperar que a terra produza sem fazer a sua parte em arar a terra, semear e regar, ele nada vai colher. A agricultura, por si, é um ato movido pela esperança. A esperança de que a chuva virá no tempo e na dose que a plantação precisa. Se, por alguma tragédia natural, o fruto do campo perece, não é porque faltou esperança ao lavrador.  Interessante notar, que, caso as sementes sejam perdidas por causa da falta ou excesso de chuva, calor escaldante ou geada, a esperança que motivou o agricultor a semear da primeira vez, o fará fazer da segunda, terceira ou quantas vezes forem necessárias.
Isso posto, a esperança verdadeira faz com que o homem produza. Pela esperança, o homem tem os olhos no futuro, mas não ignora seu presente sabendo que cada passo e cada decisão, desde a mais simples até a mais complexa tem influência direta para a sua vida e para a do seu próximo.

A Dilma não é ruim, mas...

Apesar de dizerem que o voto é secreto, eu não preciso esconder que não votaria na candidata do Lula. Reconheço que faço parte de um grupo que está diminuindo. Pelos resultados das últimas pesquisas, corre-se até o risco da eleição plebiscitária ser decidida ainda no primeiro turno.


Por termos um sistema político que privilegia a camaradagem, o tapinha nas costas e o sorriso amarelo, a esmagadora maioria dos eleitores ainda não tem maturidade para sentar, ler, ouvir todos os lados de uma eleição e comparar as propostas. Infelizmente, o que se ouve é: 'não vou votar pra perder', 'não voto em candidato que está atrás nas pesquisas' e outras sandices do gênero.

Hoje, procura-se aplicar uma maquiagem na situação e dizer que todo mundo gosta da Dilma, que ela é linda, simpática (sic!), capaz, que é a 'mãe' do PAC. Interessante que o primeiro filhote da 'mãezona' foi abortivo. Todo mundo sabe que nem metade da tal transformação de infraestrutura do país, sequer saiu do papel. Mesmo assim, os criadores de siglas geraram o PAC 2.

Uma bela plástica, técnicas para uso da voz, ensaios na frente do espelho para sorrir frente às câmeras, um banho de loja para melhorar o figurino (que era horrível) e pronto! Está montado o circo para convencer as pessoas pela maquiagem e, não, pelo conteúdo.

O picadeiro está montado. De um lado, temos o presidente da República fazendo o papel de garoto propaganda, por ter empurrado sua candidata goela abaixo da militância.
Do outro, estão alguns membro da oposição querendo acusar a Dilma de ter sido guerrilheira, por possíveis sequestros e assaltos no período da ditadura e outras aventuras da juventude.

Não gosto desta tática de combate. Afinal, acredito no poder do arrependimento, no perdão e nas possibilidades de elevação do espírito e da alma que podem trazer. Não é o passado de Dilma que me preocupa, mas, sim, sua incapacidade para encarar o futuro do país. Uma coisa que pouca gente se recorda é que Dilma, na verdade, foi apenas a rapa do tacho de Lula. Não é nenhuma novidade que os grandes nomes do partido para uma sucessão presidencial mais inteligente seriam Palocci, Zé Dirceu, Genoíno, entre outros.

Até os senadores Suplicy e Mercadante –atual candidato ao governo do Estado, seriam opções melhores. Devo confessar que, mesmo não gostando da política do PT, já votei no Mercadante para senador, mas não o faria para nenhum cargo executivo. Salvo esses dois últimos que gozam de boa reputação e até se pronunciaram contra as políticas do governo quando foi preciso, todos os outros foram tombando.
Os desmandos como a invasão do sigilo bancário de um caseiro, a corrupção explícita dos mensalões, valerioduto e outras desgraças políticas resultaram na derrubada de cada possibilidade de Lula. Sem saída, quem sobrou? A ministra da Casa Civil. Mandona, autoritária, intolerante, grossa, impaciente. Mas, não há nada que uma pela propaganda política não resolva.

Quando afirmo, sem titubear, que a candidata de Lula não tem capacidade de encarar o futuro da gestão de um país como o Brasil, tenho em mente, que ela nunca foi eleita sequer para vereadora! Se tornou ministra por uma consequência da camaradagem e, agora, é candidata ao maior cargo do país, por causa da incompetência dos outros companheiros de cela, de torturas, perseguições, fugas e, décadas depois, de outras ações apelidadas de política.

Vou revelar outro segredo: também não morro de amores pelo Serra. Mas, não posso definir meu voto por bem-querer ou mal-querer, e, sim, por definir o que, de fato, quero para o futuro do meu país.
Dinheiro no bolso e feijão na mesa com facilidade, sem a obrigatoriedade de estudar, ganhar o sustento com o suor do rosto e não apenas pelo "enorme" esforço de passar o cartão do "Bolsa-Tudo" num caixa eletrônico, não é o tipo de política que garanta um futuro decente para país.

Candidato Quem?

No Brasil, a cada dois anos temos uma panaceia de coisas de políticos à nossa volta: discursos, fotos, jornais, panfletos, faixas, banners, cavaletes, placas, carros de som, animações na internet, torpedos etc etc etc, todos os meios e peças de comunicação possíveis acabam por invadir nossas vidas.
Nem bem higienizamos a mente da enxurrada de baboseiras que se ouve nos comícios, reuniões, passeatas e outras ações nas eleições municipais, eis que surge um exército de gente que nunca vimos na vida dizendo ser o melhor cara para representar o povo ou o Estado, na Assembléia e Câmara Federal.

O que chama a atenção, é o fato de que um número exacerbado de candidatos entende que o eleitor é um perfeito idiota. Basta colocar a cara maquiada num panfleto, dizer que é o novo "salvador da pátria", que mandou dinheiro, que fez emendas parlamentares, que defendeu a moral e a ética, que é exemplar na representação popular, colocar o número o maior possível e pronto. Está feito o serviço de informação clara, precisa, inequívoca e capaz de convencer o eleitor de que "o tal" merece mesmo entrar ou permanecer na mamata!
Estou sendo cruel? Não! Apenas realista. Se acredito que tem gente que trabalha na Assembleia ou na Câmara dos Deputados? Claro que acredito, mas eles, com certeza, são minoria. Se "trabalhar" é ficar de ponte aérea em ponte aérea, fazer umas visitinhas nas cidades onde pretende tirar fotos uma vez na vida outra na morte e, mesmo assim, ter verba garantida para morar, comer e viajar, descobri que sou um perfeito vagabundo.
Não só eu, mas alguns milhões de brasileiros que sofrem mais e precisam estar no ponto de ônibus às 4 horas da manhã, pegar um trem, um metrô, um jegue e uma carroça, ralar no sol ou na chuva, sem aquecedor para amenizar o frio, ou refrigeração para aliviar o calor. Depois, de muito ralar ainda fazer algum curso supletivo, de Ensino Médio, Técnico ou Superior e chegar em casa, à meia-noite, mais moído que carne triturada e ainda dizer que o salário mínimo é uma fortuna!
Voltando aos nobres edis, trabalhadores incansáveis que nunca vimos na vida, tenho algumas perguntas.
Se ele ou ela quer ser eleito para representar o povo de uma cidade, como o eleitor pode falar com ele depois de eleito? Ele atende telefones, ou manda capataz o fazer? Recebe em seu gabinete algum pobre com roupa de sacolão, ou só se relaciona com os engomados dos gabinetes?
Quem dentro da minha cidade pode dizer, com sinceridade, e provando por documentos, que ele realmente já fez alguma coisa por alguma parcela da população? Se não fez, o que garante que ele tem conhecimento, capacidade e habilidades para fazer?
Meus questionamentos levam em consideração de tentar evitar o efeito dominó da ignorância. Se temos na Assembléia Legislativa ou na Câmara dos Deputados gente que chega lá sem fiscais, sem a pressão popular, não temos nenhuma segurança de que eles realmente vão trabalhar.
Eleger alguém como representante sem saber quem é, de onde vem e o que pretende, é como colocar alguém para cuidar da sua casa sem conhecer o currículo. Se, tendo referência, sempre temos que correr o risco, se não tiver então, é colocar um ladrão em casa conduzido pela própria mão. É entregar o ouro ao bandido.
Vale ressaltar também que é preciso levar em consideração quem está "vendendo o peixe" do cara na cidade. Se for ladrão, mentiroso, oportunista, explorador, mentiroso, é claro que não vai apresentar gente que presta. É o velho pensamento: "Diga-me com quem andas, que te direi quem és".

Igreja pós-moderna

Evangelho sem cruz, é farsa e não a voz de Deus

Embora existam controvérsias quando à definição e aplicação do termo "pós-modernidade", em sentido geral, a questão se resume a este tempo em que a sociedade está centrada na busca por prazeres e satisfação imediata de toda e qualquer necessidade.
A satisfação e o prazer pessoal estão acima de qualquer coisa e de qualquer pessoa. Não importa se o meu bem-estar vai provocar a tristeza no próximo. O que interessa é que eu preciso satisfazer o meu ego doente e narcisista.

Embora existam muitas questões que tentam definir o modo de vida do homem "pós-moderno" uma palavra é consensual: consumismo. O que importa na vida é poder comprar carros, casas, roupas de grife, acessórios de pedras preciosas e outras bugigangas. A felicidade é medida apenas pelo que se tem e não pelo que se é.

De acordo os falsos profetas da atualidade, quem não vive padrões como este são pessoas sem fé, que não honram a Deus e não vivem a 'plenitude' da comunhão com Ele. É de dar nojo. Os discursos vazios e interesseiros tornaram o lugar sagrado de buscar a Deus e manter comunhão com o próximo apenas em um espaço de culto às vaidades.

Desde que me conheço por gente, igreja sempre foi lugar, em linhas gerais, para confessar pecados, buscar forças espirituais para suportar as provações, ter prontidão para servir ao próximo independente de sua renda, nível de escolaridade ou qualquer outro fator social.
No entanto, alguns têm dado outras funções aos templos religiosos. Se dependesse deles, em pouco tempo não seria mais necessário abrir bancos, concessionárias e imobiliárias. Os templos religiosos seriam úteis para substituí-los. Isso porque, na igreja pós-moderna, o que se pretende buscar é dinheiro, carros e imóveis. Se dentro dela encontra-se tudo isso, para que os outros estabelecimentos?

Ao invés de estimular a comunhão com o que é Eterno e verdadeiro, as propagandas, convites, depoimentos, sermões e todas as outras formas de discurso fazem questão de enfatizar a busca pelo efêmero. De forma cínica abafam o discurso de Cristo: "...tome a sua cruz e siga-me". A cruz é símbolo de sofrimento, de anulação do próprio ego e busca por um viver que glorifique a Deus e abençoe a vida do próximo.

Embora pareça que a mentira do consumismo seja mais forte que a verdade do amor, ainda é possível encontrar refúgio em Deus para ter uma vida, no mínimo, mais digna e, sem dúvida, plena em felicidade verdadeira e duradoura. Essa busca não é a mais fácil. Mas, com certeza, justifica nosso título de "ser humano" e permite conhecer o Evangelho de Cristo e o Cristo do Evangelho.

Amizade é uma bela expressão de amor

Amigo faz tudo e mais um pouco para tirar o outro do buraco
 
No último dia 20 de julho, algumas pessoas se lembraram de desejar um feliz Dia do Amigo. Não sei quando, nem porque começou essa tradição, mas ela me motivou a falar sobre o valor da amizade, inspirado num fato que marcou a vida do profeta Jeremias.
Lá pelo ano 605 a.C., depois de décadas que o profeta havia alertado sobre o cativeiro que seria imposto pelo poderoso império babilônico, finalmente, se cumpria cada uma das duras palavras.

Apesar de ele ser o mais lúcido de seu tempo, era considerado um louco por indivíduos que também se posicionavam como arautos de uma pseudo-verdade. Gente que mercadejava assuntos teológicos tal qual como se vê atualmente.
O profeta Jeremias estava em situação desconfortável. Não bastando sua dor e lamento pelo povo, o profeta teve que suportar o desprezo e as afrontas de gente que tinha mais poderes políticos e religiosos do que ele. Enquanto alguns já eram cativos na terra de Babilônia, ele foi lançado numa cisterna cheia de lama.

Apesar de ter sua vida cercada por muitos rivais que não aceitavam suas advertências, Deus sempre providenciava pessoas que se posicionavam como verdadeiros amigos para os momentos cruciais.
Quando foi parar no fundo do poço, um funcionário administrativo do reino por nome Ebede-Meleque se apresentou para fazer algo mais por Jeremias. O moço era estrangeiro, um eunuco, negro, natural da Etiópia.

Mesmo sabendo que o homem que estava no fundo do poço era alguém repudiado pela maior parte do povo e das autoridades locais, aquele estrangeiro se fez amigo do profeta. A história detalhada encontra-se nos capítulos 37 e 38 do livro de Jeremias.
Ajudar aquele homem representava colocar a própria cabeça a prêmio. Mas, Ebede-Meleque havia tomado a decisão de ser um verdadeiro amigo. E, portanto, estava disposto a fazer tudo o que pudesse para salvá-lo. O eunuco se organizou, providenciou cordas e trapos velhos e lançou no fundo do poço para tirar o amigo de lá.

A imagem de Jeremias sendo puxado para fora do poço pelo amigo etíope é uma figura que me faz acreditar no poder do amor expresso pela amizade.
É, de fato, um presente dado pelo Criador a possibilidade de ganharmos amigos ao longo da vida. Infelizmente, os amigos nem sempre são aqueles que permanecem décadas a fio na distância que os olhos contemplem. No entanto, se nos distanciamos deles no corpo, certamente a alma se mantém ligada e fortalecida pelos amigos que temos.

O Dia do Amigo para fins de comemoração passou, mas qualquer dia, hora e lugar é tempo de lançarmos a corda e tirarmos um amigo do fundo do poço. Quem sabe não tem alguém, agora, precisando deste apoio. Sejamos, pois, amigos melhores e expressemos amor pelo veículo da amizade.
Bem pode ser que essa expressão aconteça não apenas pelas carícias. Por vezes, um chacoalhão pode ser mais prova de amor do que um afago. Independente da necessidade do momento, o que importa é estarmos dispostos a regar as relações de amizade.

Pé de galinha não mata pinto

Qualquer pessoa com um mínimo de inteligência e sentimento sabe que não se pode, sob circunstância ou alegação alguma, espancar uma criança. Deixar marcas, escoriações ou até fraturas em uma criança é crime, sim, e merece punição. Quanto a isso ninguém tem dúvida.

Agora, criar lei que proíbe a velha e boa palmada é coisa de gente ou que não tem o que fazer ou que nunca criou filhos. Entendo que os governos têm obrigação de garantir que as famílias e seus membros sejam atendidos em suas necessidades essenciais: educação, saúde, habitação, segurança, alimentação, lazer etc.
Entretanto, não está na lista de atribuições do governo interferir no meio da família quanto à sua forma de educação e disciplina dos filhos. Nessa hora, sem dúvida, vale o chavão: 'Em minha casa mando eu!'.

Minha avó sempre dizia: "pé de galinha não mata pinto". Ela usava o jargão para justificar que umas boas palmadas em filhos e, até netos (ai, meu Deus!), não arrancavam pedaço de ninguém. Ela estava certíssima.

A própria Bíblia Sagrada ensina: "O que retém a sua vara aborrece a seu filho, mas o que ama, a seu tempo, o castiga. Não retires da criança a disciplina; porque, fustigando-a tu com a vara, nem por isso morrerá." (Pv. 13:24; 23:13).

Se algum pai ou mãe conseguiu ou consegue manter seus filhos do jeitinho que deseja apenas pelo uso da palavra, aleluias! Troféu de ouro, Oscar, Grammy, Palma, medalha e tudo o mais que se possa dar para condecorar o super-educador. Mas tenho absoluta convicção que esse tipo de caso é tão raro quanto encontrar diamante no quintal.

Ao contrário do que se tenta pregar por aí, corrigir os filhos pelas palmadas não é nenhum pecado, loucura, desatino ou falta de amor. Muito pelo contrário. Como recomendou o rei Salomão, e como prova a vida em sociedade – pelo menos para quem não foge da realidade–, as varadas dos pais são prova definitiva de amor.

A falta de umas boas palmadas faz com que muitas crianças cresçam sem a compreensão de certo e errado, com pouco senso de direção na vida, sem clareza dos limites, até onde podem ou não chegar e a quem devem respeito e obediência.

Não é exagero ampliar o pensamento e antever que, o filho que não apanhou do pai ou da mãe, pouco tempo depois da infância, passa a ser pego pela polícia para apanhar não simplesmente por cometerem crimes, mas também para satisfazer indivíduos que sentem prazer mórbido em torturar ao semelhante.

Ora, entre a surra dos pais e o espancamento da polícia, fico com a primeira para que se tenha ao menos a possibilidade de forjar homens de bem.

Humor de torcida

Meus colegas de trabalho perguntaram em que mundo estou vivendo. A indagação foi feita porque não esboço reação ao ouvir falar de derrota, vitória ou empate da seleção brasileira na Copa do Mundo. Minha indiferença é ainda maior quando o assunto são outras seleções (salvo a seleção da Argentina).

A última vez que sofri por causa de uma copa foi na edição de 1990, realizada na Itália. Na ocasião, o Brasil foi eliminado pela Argentina nas oitavas de final no jogo do dia 24 de junho, um domingo.  Aos 35 minutos do segundo tempo, o carrasco Claudio Caniggia emplacou o único gol que fez o Brasil voltar para casa mais cedo. É fácil entender porque brasileiros e argentinos são tão sarcásticos mutuamente.

O técnico da seleção brasileira era Sebastião Lazaroni. Tinha apenas 12 anos e recordo o quanto fiquei com os nervos à flor da pele, tal a ineficiência do camarada. Mesmo tendo um time com Taffarel como goleiro, Romário e Bebeto como atacantes, a condução da equipe foi pífia. A alteração orgânica foi tamanha que sentia os músculos do pescoço contraírem de raiva.
Era um torcedor no sentido mais profundo da palavra.  Mas, tempos depois, voltei à sanidade e, simplesmente, optei pela indiferença. Frieza da minha parte? Pode ser. Contudo, tenho minhas justificativas e, ao longo do tempo, elas foram se fortalecendo ao invés de arrefecerem. Hoje, ao observar o comportamento dos torcedores consigo tirar alguns questionamentos e até lições.

Entre as lições, destaco a beleza do ajuntamento humano por uma causa comum. Embora os céticos e pessimistas prefiram destacar as imperfeições do homem e suas limitações, é mais prazeroso destacar as suas virtudes e potencialidades.
Uma Copa do Mundo não seria um grande evento sem as torcidas. Sem as multidões que superlotam os estádios. Sem as mulheres e homens que se tornam crianças e se fantasiam, extravasam, dançam, gritam, pulam, choram, sorriem. São manifestações legítimas do homem e, felizmente, elas estão aí. Quanto a isso, não seria louco de me posicionar arbitrariamente contra. Se tivesse dinheiro para bancar 30 dias fora do país, gostaria de acompanhar pessoalmente o espetáculo das torcidas.

Agora, a variação de humor e valorização da torcida e da imprensa quanto à seleção brasileira é um negócio que me irrita profundamente. Se em uma partida os jogadores não vão bem, é suficiente para que numa matéria de 10 minutos, pelo menos nove sejam para falar que são todos incompetentes, indispostos, ineptos, descompromissados, desinteressados, enfim, predicado é o que não falta, quer sejam explícitos ou implícitos. O desânimo, descrédito e pessimismo que tomam conta parecem uma densa nuvem que não vai se dissipar.

Se no outro jogo há uma melhora, algum resultado do tipo 3 a 1 para o Brasil. Aí pronto, a 'lambeção' em nada lembra os piores comentários da partida anterior. Nas duas situações, percebo que uma questão importante é jogada de lado de modo instantâneo e arbitrário: a memória. Por argumentos embasados, na maior parte das vezes apenas na emoção e sentimentalismo, erros e acertos podem ser omitidos ao bel prazer do "especialista da vez".

Infelizmente, lamento que nas relações interpessoais, em geral, façamos o mesmo. Por falta do mínimo de clareza mental, todo o bem que uma pessoa tenha nos proporcionado, pode ser esquecido. Isso tira o brilho de nossa espécie. Essa opção por ignorar as coisas boas e reforçar as ruins do cônjuge, pai, mãe, irmão, amigo, patrão, colega de trabalho ou de quem quer que seja nos reduz a idiotas. Seríamos melhores, se aprendêssemos a apontar erros, sem ignorar os acertos uns dos outros. Mas enquanto preferimos ter humor de torcida, vamos errando até um dia aprender e, com isso, crescer.

Despedida na Primeira Igreja Batista

Celso e família receberam o carinho de todas as gerações da igreja

A Primeira Igreja Batista de Campo Limpo Paulista viveu um mix de emoções no último dia 20. Além de chegarem ao culto satisfeitos com a boa performance da seleção brasileira na Copa 2010, aquela noite entraria para a história da igreja pelo seu caráter de despedida.
Depois de nove anos tendo como pastor titular o talentoso e abençoado Celso Eronides, a igreja despediu-se de seu líder e de sua família em uma noite memorável. A partir do dia 26, o jovem pastor assume a liderança da Primeira Igreja Batista de Suzano.

A mudança foi em clima de perfeita paz e harmonia. Tanto que, como já é tradição entre os batistas, os membros da igreja de Campo Limpo realizaram, no sábado, dia 19, um culto especial que representa a entrega do líder da igreja que se despede para a que o recebe.
Mesmo não perdendo o foco de estarem reunidos para promover um culto em louvor e adoração a Deus, os membros tiveram participações emocionantes com o envolvimento de todas as gerações.

Das crianças aos anciãos, todos aproveitaram para recordar os cânticos que fazem parte do repertório preferido do pastor Celso, recitar poesia e dar presentes. Com um espírito de gratidão, a igreja reviveu os nove anos de trabalho. As lágrimas foram inevitáveis. Ainda que resistindo e brincando com o argumento de que "homem não chora", Celso e a igreja foram vencidos pela emoção.
As insistentes lágrimas traduziram a convicção de que, a partir daquela data, não o teriam mais como pastor. Mas, representavam também a gratidão a Deus pela convicção de que a mudança não é uma perda para a igreja local, mas um ganho para o reino de Cristo.

Em sua última pregação como pastor titular da igreja campo-limpense, Celso optou por fazer uma reflexão livre, isto é, sem os rigores de um sermão. Em sua abordagem, agradeceu o carinho ele e toda sua família recebeu. Eronides também ressaltou a nobreza na postura dos membros da igreja que sempre procuraram atuar em comum acordo. "Vocês não viveram brigando e, portanto, foi fácil pastoreá-los", afirmou.
Celso falou, ainda, sobre a brevidade da vida. Lembrou que chegar à marca dos 40 anos não foi um fato 100% assimilado e brincou dizendo que sente-se com 18 anos.

Inspirado no Salmo 90:12: "Ensina-nos a contar os nossos dias, de tal maneira que alcancemos corações sábios", ele falou sobre a necessidade de sabedoria para o curso da vida e concluiu que o amor é um segredo para viver sabiamente.
Recordando o verso popular que afirma: "É preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã", ele deixou clara sua  motivação de manter viva as amizades da etapa que se encerra e de que o amor será o tônico da etapa que se inicia.

Saudável dependência

Depender de alguém ou de alguma coisa, em geral, é uma situação que provoca asco. Ao longo da vida, somos estimulados a buscar, a qualquer preço, a independência. Não queremos depender do pai, da mãe, do cônjuge, do filho, do irmão, do amigo, do colega de trabalho, do patrão ou de quem quer que seja.

É legítimo desejarmos "não dar trabalho" às pessoas que nos cercam. Também é inteligente não ser um tipo de sanguessuga que se aproveita da boa vontade de algum desavisado para ter uma boa vida, não planejar o futuro e manter-se deitado em berço esplêndido.
Podemos e devemos ser independentes para pagar nossas contas. A independência que permite ir à luta e colocar o pão na mesa, vestir, calçar, morar, se divertir, viajar, enfim, esta autonomia para bancar as próprias despesas, chega a ser fator de saúde emocional e equilíbrio social.

Muitas pessoas ficam depressivas por não conseguir dar aos filhos o que gostariam. Sociedades inteiras podem entrar em colapso se o dinheiro começa a virar coisa rara ou se desvaloriza. Gritamos, e alto, quando a nossa independência financeira fica ameaçada.
No entanto, no frigir dos ovos, a nossa relação de dependência uns dos outros vai além do que conseguimos mensurar. Podemos até dar um grito de liberdade no tocante às coisas materiais, mas o Criador elaborou um sistema de relações do qual não podemos fugir.

É loucura tentar viver numa redoma de vidro, sem contato com o próximo. Por mais que os céticos e egoístas odeiem admitir, precisamos uns dos outros.
Sempre precisamos de alguém que seja um suporte capaz de impedir a queda fatal, em função de um tropeço na jornada da vida. Se a queda foi inevitável, se já estamos no fundo do poço, invariavelmente, vamos precisar de alguém que nos estenda a mão ou lance a corda para nos tirar de lá.

Se cairmos irremediavelmente enfermos, vamos precisar de médicos, enfermeiros profissionais ou, pelo menos, aqueles 'anjos da guarda' que mesmo leigos sabem tratar do corpo e, de quebra, refrigeram a alma.
Quando Deus criou esse sistema de relações tão complexo, acredito que este foi o método que Ele encontrou para se revelar pouco a pouco a quem projetou como sua "imagem e semelhança". Além disso, acredito que o Criador pretende comunicar que, assim como dependemos uns dos outros, não podemos esquecer, sob circunstância alguma, que dependemos dEle.

Erramos loucamente quando nos determinamos a sermos auto-suficientes e não buscamos em Deus a sabedoria, capacidade, forças, graça para vencer cada obstáculo da vida. Não importa a fúria do vendaval, não importa o tamanho das ondas sobre o frágil barco da existência. Se não descartamos a possibilidade de depender do Todo-Poderoso, estamos com a estratégia certa para vencer. Se depender do próximo é inevitável, admitir a dependência de Deus é um dos segredos de uma vida feliz.

Prazer em sofrer

Antes de ir esperar o ônibus vale a pena consultar os horários

O que tenho a dizer hoje, ao contrário do que possa parecer, vem da própria experiência. Admito que em certa medida,  talvez em dose cavalar, agi com desinteligência em relação a alguns assuntos. Um dos atos de desinteligência que mais me martirizam sempre que lembro é quando inventava de ir esperar a Mercedes Bens coletiva, com motorista particular que, como coração de mãe, sempre cabe mais um.

Entendo que se a pessoa precisa muito, não aguenta sair a pé para sair, por exemplo, do jardim Marsola para vir até ao Centro de Campo Limpo, ele deve mesmo usar o transporte público coletivo.
Mas tem gente saudável que bem podia percorrer a mesma distância a pé e, no entanto, mesmo reclamando, xingando de Deus ao diabo, dizendo que a passagem é um absurdo, 'onde já se viu?', etc continua pagando para percorrer, no busão, uma distância de cinco pontos.

Ora, se me disponho a pagar R$ 2,65 por uma distância que posso fazer a pé, sou eu quem tenho dinheiro para jogar fora. Não tenho o direito de me fazer de vítima e ficar dizendo: 'oh, como sofro!'.
Contudo, parece que esse discurso é uma forma de sofrimento que dá prazer. Funciona como massagem do ego. O papel de sofredor, esquecido, abandonado é interpretado em larga escala.

Honestamente? Isso é balela. Ninguém é coitado. Todo mundo pode mais do que realmente faz, mas é preferível alegar fraqueza a ter que usar o mínimo de força que se tem.
Voltando a falar do ato de desinteligência... já tive vontade de bater, chicotear, esmurrar, não aos donos de empresa de ônibus, motoristas ou fiscais de transporte público, mas a mim mesmo pelas vezes que fui ao ponto de ônibus em pleno sábado, no fim da tarde, ou no domingo, em qualquer horário,  sem saber que hora passaria o latão.

Não sou defensor dos donos de empresa de ônibus, eles devem mesmo ser cobrados para colocar carros novos, limpos e conservados para a população e atender a demanda com quantidade de horários de acordo com cada região da cidade.
Mas, é falta de inteligência minha, muita preguiça e muito, mas muito prazer em sofrer, quando simplesmente não consulto o horário de ônibus da linha utilizo antes de ir para o ponto.

Com as facilidades de hoje, além do velho papel e caneta que custam baratinho para anotar os horários no mural da empresa, inventaram a Internet que com um único clique posso ter a tabela inteira com todos os horários! Óóóó!!! Antes da net, já existia o telefone, que ainda serve para ligar e fazer a perguntinha básica: "Que horas tem o próximo ônibus?".
Se não faço isso, mereço mesmo ficar 15, 30, 45 minutos, 1 hora esperando pelo latão. Se tenho vergonha na cara, primeiro, busco informação, depois vou usar o serviço, e, se a empresa não cumpre, aí posso me armar de unhas e dentes para reclamar. Se fizer isso, além de me ajudar, posso beneficiar os outros cidadãos a usufruírem seus direitos.

A vida alheia

Há grande diferença entre 'importar com' e 'cuidar da' vida alheia
 
Há alguns anos ouvi um amigo dizer para outro: "Escolhe a raça" (ele referia-se à raça de gato). Curioso com o significado da expressão passei a prestar atenção no papo. A continuação foi: "Assim, você cuida das sete vidas do gato e deixa a minha em paz".
Evidentemente, a brincadeira foi entre amigos e feita com muito bom humor. No entanto, se a estória das sete vidas do gato não fosse uma fábula, seria bastante interessante dar um gato de presente para cada pessoa logo ao nascer. Deveria ser um bicho de estimação de uso obrigatório.

Contudo, o pobre gato tem apenas uma vidinha muito breve. Resta aos humanos, então, o aprendizado de não cuidar da vida alheia por outros meios. Sou adepto confesso da filosofia de importar-se com a vida alheia. No entanto, existe uma profunda confusão entre importar e cuidar. E, a menos que eu seja um completo idiota, existe grande diferença entre um verbo e outro.
Em linhas gerais, quando damos importância a algum assunto, isso significa que temos interesse nele. Já quando cuidamos, isso quer dizer que estamos tomando conta. Ora, se aplicarmos esses conceitos à vida do vizinho, fica fácil  entender a diferença.

Quando me importo com a vida alheia, demonstro interesse em saber porque meu próximo chora ou o que lhe causa alegria. Posso procurar saber se tem alguma forma de ajudar. Quando me importo, e faço isso de modo sincero, a primeira reação que tenho é da compaixão. Isto é, me solidarizo com o meu próximo e sofro com ele sua dor, ou então, celebro sua festa como se fosse minha.
Quando me importo com as pessoas, estabeleço um canal de comunhão. Isso não significa que vou passar a comer sal no mesmo prato e dividir o cobertor. Significa tão  somente que posso desenvolver as relações sociais com a força, beleza e vitalidade que o Criador projetou.

Importar-se com a vida alheia é conseguir cumprir o que preconizou o apóstolo Paulo: "Alegrai-vos com os que se alegram; e chorai com os que choram" (Rm. 12:15).
Agora, cuidar da vida alheia é exatamente o oposto disso. O cuidador da vida dos outros tem o hábito nojento de espiar pelo buraco da fechadura. Quer invadir a privacidade, controlar os passos, determinar os atos de tantos quanto possa.

Em geral, o cuidador da vida alheia é um desocupado que finge ter muitas ocupações. Cria uma aura de quem tem muito o que fazer, mas, na verdade, sua grande missão é bisbilhotar.
As pessoas que nos cercam não precisam de palpiteiros de plantão. Elas só precisam encontrar um ombro amigo, um ouvido atento. Nem é preciso ter todas as respostas, pode até ter tantas perguntas quanto elas, o que realmente precisam é que queiramos viver em comunhão e darmos a cada um o reconhecimento do seu devido valor.

Os homens e os templos

Desde os tempos mais remotos os homens desenvolveram o hábito de construir lugares dedicados a atividades específicas. Não sei onde, nem quando começou, mas o fato é que sempre sentimos necessidade de construir espaços para festas, realização de modalidades esportivas, celebrações religiosas etc.
Por essa prática temos verdadeiros monumentos que representam a força e abrangência de determinadas atividades. O Coliseu romano, por exemplo, faz lembrar as lutas entre gladiadores e também evoca a memória do sangue de milhares de pessoas que morreram nas garras de leões.
Hoje, temos os estádios de Futebol. Construções imensas como o Maracanã, com capacidade para 87 mil pessoas, ou o Estádio Rungrado May Day, em Pyongyang, na Coreia do Norte, com 190 mil lugares. É possível colocar neste estádio as populações de Várzea e Campo Limpo e ainda tem lugar para os jarinuenses.
 
Por analogia, chamamos os estádios de "templos do futebol". Isso revela o valor da modalidade esportiva para a sociedade moderna. É um lugar que representa sua força. Não é à toa o futebol mobilize o mundo a cada quatro anos.
Ainda temos os templos da cultura. Os teatros edificados exclusivamente para apreciação de artes como apresentações de peças teatrais, óperas e concertos. Só para exemplificar, em Pequim, na China, foi construído em 1959 o Renmin Dahuitagn, que significa "Edifício Nacional de Encontro do Povo", com capacidade para 10 mil pessoas.
Nessa mesma onda do gigantismo, temos os templos religiosos. Cada povo tem seu lugar específico para firmar sua religião. Sinagogas para judeus, igrejas para cristãos, mesquitas para mulçumanos e por aí vai.

Um giro pelo mundo nos apresenta uma enorme lista de templos monumentais que bem poderiam representar o valor da fé, mas, infelizmente, representam muito mais o desejo de ostentação dos religiosos.
Embora os equívocos estejam tão presentes quanto erva daninha na lavoura, os santuários edificados em nome de Deus tem seu valor especial. Sem ser radical ou fundamentalista, acredito que devemos realmente frequentar mais estes lugares.

Não acredito que é a simples frequência a este ou aquele templo amplie a conexão com o Divino. Entretanto, o rei Daví chegou a dizer: "Até o pardal encontrou casa, e a andorinha ninho para si, onde ponha seus filhos, até mesmo nos teus altares" (Salmo 84:3). Ora, se até os animais encontram aconchego nos templos erguidos em nome da fé quanto mais o ser humano.
Num encontro entre Jesus e a mulher samaritana à beira de um poço, entre os muitos temas a conversa passou pelo lugar de adoração. Jesus respondeu: "Mas a hora vem, e agora é, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque o Pai procura a tais que assim o adorem" (João 4:23).

Jesus era frequentador das sinagogas e como bom judeu visitou o grande templo de Jerusalém. Contudo, ele deixou claro que o mais importante não era a frequência a este ou aquele lugar, mas, sim, a adoração que nasce no coração do homem.
O apóstolo Paulo aprofundou o pensamento quando escreveu: "Não sabeis vós que sois o templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós?" (I Co. 3:16). Mais importante que frequentar este ou aquele tipo de santuário, o melhor é ser um templo vivo onde Deus realmente possa habitar.
Embora seja difícil conceber que o Todo-Poderoso se faça habitar no ser humano, tão pequeno, frágil e imperfeito, é bom atentar para o estado do templo que somos. Afinal, se não habitar o Pai das luzes, outros deuses podem ocupar o lugar.

Meu gosto por comerciais antigos

Tenho absoluta certeza que revelo a minha idade só de veicular esses vídeos.
Mas, como gosto de verdade, quis homenagear os publicitários que conceberam
estas produções totalmente demais.

Casas Pernambucanas [1962]


Pipoca e Guaraná


Pizza e Guaraná


Parmalat - mamíferos 1 - [1996]


Parmalat - Mamíferos 2 [1996]


Viva o Conga!!!!


Cotonete - [1978]

Jesus e a princesa Isabel

Cristo despedaça as algemas do medo, do ódio e dá mágoa

Lá se vão 122 anos desde que a princesa Isabel Cristina Leopoldina Augusta Micaela Gabriela Rafaela Gonzaga de Bragança assinou a famosa Lei Áurea que, desde 13 de maio de 1888, declarou extinta a escravidão no Brasil.
A despeito das polêmicas que até hoje cercam a ação em função da crise social iniciada pela alforria a uma multidão de pessoas que não tinham para onde ir, sem escolaridade, sem um meio de sustento garantido, entre outros problemas, sua ação foi fundamental. Independente das correntes políticas pró e contra a abolição da escravatura, a memória da princesa foi assombrada por ter sido irresponsável na assinatura da lei por muito tempo.

Mais de 100 anos após sua conquista política e social, alguém encontrou um documento que revelou sua preocupação com o futuro dos negros. Infelizmente, ela não conseguiu executar seus planos de dar o mínimo de dignidade para a imensa nação de ex-escravos. Mas, isso são outras quirelas.
Os registros históricos apontam que mesmo antes de assinar a famosa lei, a princesa financiava a alforria de ex-escravos com seu próprio dinheiro e apoiava a comunidade do Quilombo do Leblon, que cultivava camélias brancas, símbolo do abolicionismo.

Atualmente, a data de 13 de maio parece ter sido relegada ao esquecimento ou minimização de sua importância histórica. A mesma tentativa vem sendo engendrada desde que Cristo, ressuscitou, conforme narram os autores dos Evangelhos.
O Messias afirmou abertamente: "E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará. Se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres." (João 8:32 e 36).

Como o povo judeu também vivia sob o regime nada humanizado dos romanos, o desejo de uma liberdade física das tiranias de governantes e representantes de Roma era algo que dominava as suas interpretações da liberdade oferecida por Cristo.
Possivelmente, quando Jesus falava desta liberdade oferecida por Ele, muita gente deve ter imaginado sua entrada em Jerusalém montado num cavalo com um enorme exército de soldados com espadas, lanças, couraças, escudos e toda parafernália de guerra.

A deturpação do significado da mensagem de Cristo há 2 mil anos permanece até hoje com uma roupagem diferente. Seus contemporâneos almejavam a liberdade da dominação romana, ao invés da liberdade de espírito que Ele propunha.
Hoje, o discurso de Jesus é reduzido à liberdade de problemas também materiais. A cada dia, Cristo vem sendo apresentado como o solucionador de problemas econômicos. Uma espécie de Gerente Super-Poderoso das contas bancárias.

Isso é ignorância. É reduzir a grandeza do amor e compaixão de Cristo que veio propor liberdade espiritual. As algemas que seu amor despedaça são as do medo, do ódio, da mágoa. Essa liberdade garantida por Ele, resulta em prosperidade, também, mas não apenas no bolso e, sim, da vida.

Reconhecimento

Neste dias das mães, façamos um passeio pelas telas da vida


Em qualquer relação humana o reconhecimento abre portas. Ouso dizer que ser reconhecido cura feridas, desperta ânimos, abre a visão, enfim, existem diversos benefícios no ato do reconhecimento.


As benesses não ficam restritas a quem recebe, mas também a quem dá o reconhecimento. Isso é verdadeiro no trabalho entre empregado e patrão, na escola, entre professor e aluno ou vice-versa, entre os colegas de trabalho, com os amigos, na família entre marido e mulher, e, também, entre mães e filhos.

No próximo domingo, teremos mais uma comemoração do dia das Mães. Novamente, flores, chocolates –para desespero das que vivem em dieta–, jóias, refeições especiais, beijos, abraços dos filhos, netos, bisnetos que estão perto e daqueles que vêm de longe para celebrar a data.

No momento de abraçar, beijar ou presentear a mamãe, vale parar diante dela e prestar atenção na sua figura. Independente da idade, do estado da pele –se marcada pelas rugas–, ou formato do corpo –se mais gordinhas ou magrinhas–, se altas ou baixas, se negras ou brancas, se biológicas ou adotivas, se doutoras ou analfabetas, não importa. Sugiro que o olhar decline sobre elas e, na velocidade que o cérebro humano alcança, procure fazer um flash-back da vida desta mulher que estará diante de seus olhos e atende pelo doce título de mãe.

Neste passeio entre o ontem e o hoje, agradeça a Deus pelo milagre da maternidade que permitiu o teu nascimento. Lembre de suas lutas, suas dores, suas lágrimas. Recorde, ainda, até das suas ações e palavras mais severas que, hoje, você reconhece o quanto eram demonstrações de amor.

Após o passeio por estas e outras telas da vida, não esqueça de soltar um sonoro: 'Muito obrigado, Deus!'. Agradeça ao Criador por Ele, tantas vezes, ter atendido as suas orações em teu favor. Se fosse possível armazenar em potes as lágrimas que as mães vertem em favor de seus filhos, nos assustaríamos com o volume.

Elas choram pela alegria da maternidade, por causa do primeiro passo, da primeira palavra... Quando o filho acerta em suas escolhas, elas choram. As lágrimas rolam em intensidade ainda maior quando eles tropeçam e caem no curso da vida. As lágrimas maternas regam o jardim da vida de seus filhos. Sejamos, pois, agradecidos fazendo escolhas que façam as mães continuarem chorando, mas apenas de alegria.

 
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