Coveiros de sonhos

Calma. Não precisa se preocupar. Como disseram que eu estava deprimido, doente, enclausurado (sic!) você pode pensar que o título é um desabafo, mas não é. É somente uma vacina.
Estamos já na contagem regressiva de fim de ano. Pessoalmente, não vejo a hora que comece logo o tal 2013. Nos próximos 45 dias, vamos viver um misto de pressa, melancolia, expectativa, reflexão, projeções, enfim, uma celeuma de coisas que vão dar mais ou menos certo dependendo do quão coerentes seremos na hora de trabalhar pelo que almejamos.

Minha conta de 45 dias é só porque incluo os 15 primeiros dias de cada ano como aqueles que nos veêm com o melhor dos humores (ao menos em condições normais). Depois disso, tudo vira rotina e o que permanece mesmo são os sonhos que reúnem alguma possibilidade de materialização. 

Claro que cada caso é um caso. Tem sonho que é mesmo melhor deixar de lado. Afinal, se o sonho é comer peixe frito, não adianta pedir a Deus para que o mar pegue fogo. Mas tem sonho que, independente dos coveiros que nos cercam, precisam ser regados, aperfeiçoados e plenamente realizados.
As milenares pirâmides do Egito foram construídas com a função primária de guardar mortos. Os faraós queriam uma última morada à altura do orgulho e vaidade de cada um. 

Em pleno século 21, vejo alguns faraós andando entre nós. Esses faraós modernos, ao contrário dos antigos, constroem pirâmides para enterrar não a si mesmos, mas sim aos nossos melhores sonhadores e, claro, seus sonhos.
A construção desses túmulos é silenciosa, porém constante. Sempre identificamos quem são os coveiros de sonhos quando os ouvimos dizer coisas que desencorajam, desanimam, decepcionam o mais empolgado sonhador.

O coveiro de sonhos é um frustrado consigo mesmo e por isso precisa trabalhar duro para espalhar sua frustração ao maior número possível de pessoas.
Estes coveiros de sonhos, faraós modernos, tiranos contra a beleza, a poesia e a inocência que marcam um sonhador, estão sempre com uma palavra negativa.
Têm na ponta da língua algumas expressões tais como: 'não vai dar certo', 'não vale a pena', 'tem que ser de outro jeito', 'não adianta criar, é melhor copiar'. 

São hábeis no uso do melhor recurso neurolinguístico com o objetivo de fazer uma ou várias pessoas desistirem de um sonho, de um propósito, de um ideal.
O pior é que alguns escondem-se numa máscara de experiência para dizer que já viu e viveu de tudo e que, portanto, está gabaritado para dar esta ou aquela sentença às pessoas ou grupos podendo, assim, usar de licença para matar os sonhos alheios.

Quantos bons escritores, cantores, compositores, advogados, médicos, atores, jornalistas, executivos deixamos de conhecer por causa das infelizes colocações desse ou daquele coveiro de sonhos com suas intermináveis palavras de descrédito e desânimo? 
Felizmente, há alguns que não se deixam abater pela atuação nem influência desses coveiros. Mas, a maioria se abate, desiste e para. 
Já que temos coveiros de sonhos, precisamos contrapor a ação deles tornando-nos jardineiros. Sejamos mais atentos com o que dizer aos nossos filhos, cônjuges, colegas e amigos na hora de falar sobre o que estão fazendo ou planejando fazer. 
Escolhamos com cuidado as melhores palavras pra dizer: 'siga em frente', 'estarei à sua disposição para te ajudar', 'quero estar do seu lado para comemorar'. Dessa forma estaremos regando sonhos e vendo o nosso próximo florescer como um jardim na primavera.

Amor só é amor se agir



O amor é um tema que está nos lábios, nos olhos, na mente, nos gestos, nas expressões de todo mundo. Se entendemos ou não o que é esse amor em suas múltiplas manifestações de pais e filhos, marido e mulher, namorados, amigos etc é assunto que dificilmente chegaremos a uma conclusão definitiva. 


Por mais que já se tenha discutido sobre este assunto, tentado dar definições para o que é o amor, sempre teremos algo a aprender. Mas, desconsiderando as teorias sobre o amor, o que provoca nas pessoas, suas conseqüências sociais e outras questões, quero refletir sob a ótica de que o amor vem saturado de ação. 


Por mais que se tente criar teorias para o amor, ele só pode ser entendido pela prática. Ao observar nossas relações, vemos que sempre precisamos fazer escolhas em favor de quem argumentamos amar. As decisões, com certeza, causaram algum impacto em nossas vidas quer sejam de grandes ou pequenas proporções.


A pessoa que escolhemos para casar, por exemplo, nos faz abrir mão de hábitos e preferências. Procuramos sempre nos ajustar de tal forma a que as partes interessadas na relação não se aniquilem, mas alcancem uma complementação.

Quando amamos, passamos por sucessivos momentos de renúncia para alimentar o amor. Isso é amor em ação. O amor está sempre voluntarioso na prestação do serviço. 
Não importa o momento, o dia, a hora, o lugar. Se amamos, as mãos estão sempre estendidas, os pés sempre ágeis para correr em socorro. 
Jesus, o Mestre do Amor, sempre discursou sobre o assunto mostrando a voluntariedade da ação de quem ama. Isso é o que percebemos na célebre parábola do bom samaritano que socorre um cidadão desconhecido agredido por ladrões, paga e acompanha sua recuperação (Lucas 10:30-37).

Um dos textos bíblicos mais populares afirma que Deus deu seu Filho Unigênito para provar que ama o homem. (João 3:16) Sendo assim, é de bom tom avaliarmos o quanto o nosso amor tem sido exercitado. 
Quanto as pessoas que nos cercam sabem que as amamos? É comum optarmos para que as pessoas saibam disso pela dedução. Via de regra, somos explícitos nas coisas ruins. Nas expressões de insatisfação, muitas vezes, nas palavras de ofensa.

Quando irados, falamos em alto e bom som para quem interessa e para quem não interessa também. Com as expressões de amor, temos a mesma postura de consumidores. Quando satisfeitos, falamos para mais um amigo (quando o fazemos). 

Se o produto ou serviço dá algum problema, reclamamos, telefonamos, publicamos no Twitter, Facebook, falamos mal no almoço de aniversário, no jantar de Natal, na viagem de fim de ano. Quando não gostamos de algo, até aceitamos ir no aniversário da sogra para poder compartilhar a insatisfação.

Acredito que poderíamos mudar a postura. Não será brusca, mas pode ser gradual. Ou seja, podemos nos exercitar em exaltar mais as virtudes uns dos outros. Elogiar mais os acertos, minimizar os erros. Já que o Natal bate à porta, felicitações de boas festas, cumprimentos, viagens, proponho que não deixemos as expressões de amor para a dedução. Sejamos explícitos. 

Aniquilemos o medo de dizer que amamos. Abraços, beijos, compartilhamento de sonhos. 
Tenhamos disposição para chorar juntos, para rir. Encorajemo-nos a levar as cargas uns dos outros, a perdoar uns aos outros e, dessa forma, usufruirmos mais de todas as dádivas decorrentes da prática do amor.

Contra os maquiavélicos, a amizade

Atribui-se a Nicolau Maquiavel (1469-1527) uma lista de 10 mandamentos que, infelizmente, são seguidos com certo rigor por um expressivo número de pessoas. Muitos dos seus cumpridores dariam orgulho a quem quer que tenha concebido o 'código de postura do corrupto'. 

Isso porque o esmero com que cumprem os mandamentos é quase de uma fidelidade religiosa. Vejamos: 1) Zelai apenas pelos vossos próprios interesses; 2) Não honreis a mais ninguém além de vós mesmos; 3) Fazei o mal, mas finge fazer o bem; 4) Cobiçai e procurai obter tudo o que puderes; 5) Sede miserável; 6) Sede brutal; 7) Enganai ao próximo toda vez que puderes; 8) Matai os vossos inimigos e ,se for necessário, os seus amigos; 9) Usai a força, em vez da bondade ao tratares com o próximo;  10) Pensai exclusivamente na guerra.

Afirma-se que a lista supra tenha sido elaborada no século 16. Quinhentos anos depois,  infelizmente, a prática dos mandamentos é bastante propalada. 
Contudo, muito mais do que dar lugar à desesperança e incredulidade que, paulatinamente, envenenam e matam a alma, prefiro dar lugar à esperança e à fé que num ritmo também gradual instauram saúde e vida.
Tenho especial apreço pelo que escreveu o rei Salomão acerca da amizade: "O amigo ama em todos os momentos; é um irmão na adversidade" (Pv. 17:17 - Linguagem de Hoje). 

Apesar de vivermos um tempo demasiadamente conturbado e termos os nossos piores instintos sempre muito estimulados, gosto de acreditar e, mais que isso, viver os benefícios da amizade.
A esperança e fé são injetáveis na alma humana a partir das conexões que estabelecemos com pessoas que convencionamos chamar de amigos. Eles,os amigos, nos permitem viver uma expressão de amor que chamamos de amizade. Com eles somos obrigados a aprender o princípio da partilha. 

Isso porque, não podemos ter direitos exclusivos sobre a companhia de ninguém. Somos obrigados a dividir o tempo e as atenções deles com suas famílias,  trabalho, e claro, com outros amigos.
É bem verdade que poucas pessoas ganham o título de amigo no sentido mais amplo da palavra. Ao longo de toda uma vida poucas pessoas chegam a esse status. A grande maioria são pessoas com quem dividimos atividades nos diferentes ambientes que trafegamos.

Na minha limitada leitura da vida, essa diferenciação se estabelece porque com os colegas falamos e fazemos as coisas do mundo físico tão temporais e efêmeras quanto as tarefas desenvolvidas. 
Entretanto, com os amigos partilhamos segredos, alegrias, tristezas, frustrações, conquistas, superações, decepções, enfim, com os amigos sentamos banquete à mesa da alma e comemos quer a porção seja um favo de mel ou bocado de fel.

Gosto da visão registrada por Salomão de que o amigo é justamente a pessoa que se mantém perto nem que seja apenas para chorar. Normalmente, quando a situação aperta, não sabemos o que fazer para resolver o problema de um amigo. 
Não temos o dinheiro ou a saúde que precisa, não conseguimos ter a ideia brilhante para resolver um problema qualquer. Embora pareça frustrante, a amizade é estabelecida, aprofundada e fortalecida justamente nesses momentos de vulnerabilidade mútuas. 

Percebemos a pequenez e limitação uns dos outros e, milagrosamente, nos encorajamos e dizemos: 'vamos dar mais um passo'.  
Os amigos são tão importantes e sublimes que o próprio Cristo disse aos seus discípulos: "Já não os chamo servos, porque o servo não sabe o que o seu senhor faz. Em vez disso, eu os tenho chamado amigos, porque tudo o que ouvi de meu Pai eu lhes tornei conhecido." (Jo. 15:15).

Os pais e a Educação

Em tempos de realização de Enem, votação da divisão dos royalties do Petróleo (considerando um ovo que a galinha ainda vai botar, que é o tal do Pré-Sal), o assunto Educação salta aos olhos ou pelo menos entra na pauta dos veículos de comunicação. Nestes momentos, ouvimos à exaustão expressões que viraram bordão dos políticos, especialmente enquanto candidatos, depois de eleitos, a cantiga é outra. 

Na falta dos políticos, temos jornalistas, educadores, pesquisadores, almofadinhas e tudo o mais repetindo coisas assim: 'Sem educação o país não avança'; 'Os países desenvolvidos só são o que são porque priorizaram a Educação'; 'A melhora da Educação passa pela valorização do professor'; 'Temos salas de aula do século 19, professores do século 20 e alunos do século 21'; 'A escola tem que envolver a comunidade', e por aí vai.

Vou ser muito franco: em certa medida esta baboseira tem me irritado bastante. Não porque sejam afirmações erradas. Mas, principalmente, porque viraram uma falação sem fim. No frigir dos ovos, temos um sem número de alunos que completam 11 anos, chegam à 5ª série e não sabem ler! Enquanto ficamos discutindo a 'rebimboca da parafuseta' com elucubrações de toda sorte, o abismo parece não ter fim.

Manifesto-me sobre o tema sem a menor pretensão de encontrar pessoas que concordem. Na verdade, a maioria vai discordar, dizer que não tenho conhecimento de causa, que não sou especialista blá, blá, blá. Não tem problema. Como diria Chacrinha: "eu não vim para explicar".

No meio de toda essa balbúrdia em torno da educação, tenho especial irritação com a irresponsabilidade daqueles que, para mim, são os principais agentes do processo de ensino depois dos professores: os pais. 
Os genitores, procriadores, perpetuadores da espécie humana que tanto se orgulham da capacidade reprodutiva, em tempos que a sanidade parecia mais presente, faziam questão de dizer: 'Eu não estudei, mas meu filho vai estudar para ser alguém na vida'. 

Com este pensamento, não tinha gripe, resfriado, disenteria que fizesse Joãozinho e Chiquinha ficar em casa por puro charme. Se, por um azar, chegasse a notícia que o pequeno notável não havia comparecido à aula, quando o fujão ou fujona surgia no cenário, o couro comia, a cinta cantava, o pau quebrava e, no dia seguinte, estava todo mundo na sala de aula como manda o figurino.

Pai e mãe que cumpre, de fato, sua obrigação quer saber como foi a aula, se foi passada alguma atividade, se o exercício está feito, qual foi a nota da prova. Reprodutor que se preza, ao menos os da espécie humana, não faz cara azeda quando chega a hora de participar da reunião de pais e mestres e saber como está o rendimento da cria ouvindo a melhor fonte: o professor. 

Contudo, o que temos em escala cada vez maior? Ausência, irresponsabilidade, negligência e, como não pode deixar de ser, transferência de culpa, jogo de empurra-empurra. Enquanto isso, declinamos. 
Infelizmente, temos hoje um grande número de crianças e adolescentes que são filhos de uma geração que já não prezou pelo própria educação. Uma boa parcela achou que já era "dotô" ao terminar a 8ª série. 

Afinal, com esta 'elevada graduação', era hora de procriar. Como nunca gostaram de estudar e sabiam, como ninguém, desrespeitar o professor, conseguem transferir quase que pelo DNA esse modo medíocre de viver. 
O resultado? Professores apavorados em sala de aula sem saber o que fazer com seres que entram na escola aula achando que são da Liga da Justiça e que têm super poderes sabe-se lá para o quê. 

Professor tem, sim, que buscar capacitação contínua e aluno tem obrigação de se dedicar ao aprendizado. Agora, enquanto os pais se eximirem da responsabilidade, pode triplicar o dinheiro investido em Educação, o saco vai continuar sem fundo.

 
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