Falar e fazer

Neste post quero dar sequência à abordagem sobre os verbos que lhe conferem o título. No post anterior <Pausa para um brinde>, fiz uma homenagem aos milhares de cidadãos campo-limpenses que, normalmente, só tem tempo para trabalhar e pouco podem se expressar. Reitero a afirmação de que luta pela cidade quem sabe o que quer e como quer. Agora, escrevendo na rede, mantenho o ponto de partida considerando os moradores de Campo Limpo Paulista, na região de Jundiaí, a 60km da Capital. Contudo, tenho absoluta certeza que o tipo descrito abaixo, o falador, está presente em todo lugar. Seja na família, na igreja, na escola, em qualquer lugar a espécie está presente, mas, estou convicto de que eles não são maioria.

Temos, sim, pessoas que não perdem tempo falando aos ventos, mas, ganham tempo produzindo. Recorro, mais uma vez, aos maravilhosos ditos populares que minha avó usava. Sobre essa espécie de gente que fala, fala e só fala em prosa e verso, ela dizia: "Quem muito fala dá bom dia a cavalo".
No post anterior, fiz um louvor aos que produzem, trabalham, se comprometem, fazem e, de fato, acontecem. Esta semana, deixo bem claro, sem espaço para acharem que falei de batatas, quando, na verdade, falei de giló, registro o meu protesto, reclamação, lamento, irritação, repúdio, nojo dos grupinhos que se formam aqui e acolá apenas para falar.

Embora muitas pessoas possam discordar do que vou dizer, ao contrário do que parece, esse tipo de gente que citei acima, não é a maioria como a gente acha e, às vezes, até tem certeza. Nos enganamos quando damos mais importância a essas pessoas do que elas realmente merecem. O que ocorre, é que como elas só sabem falar, a habilidade vai se aprimorando com o tempo.
Para explicar o raciocínio, vamos pensar em uma casa que tem um único bebê de 3 meses que resolve querer mamar às 4 da manhã. Alguém tem dúvida que aquele pequeno pulmãozinho tem capacidade de acordar a todos na casa que ele mora e, de quebra, alguns vizinhos?
É mais ou menos isso que acontece com os faladores. Eles aprenderam a berrar. Fortaleceram os pulmões e afiaram a língua de modo tal que, além de ferir aos outros, em um momento ou outro a lâmina afiada e o veneno concentrado começa a lhe mutilar e criar gangrena não no corpo, mas na alma.

Os faladores também têm problemas de visão. Em sua arrogância, os que muito falam iludem-se de que são verdadeiros gigantes da produtividade. Contudo, de coisa tenho certeza: quem muito fala, pouco faz. Quem é valente no gogó, tem a covardia como evidência da atitudes. Se confrontados, encolhem. 
Quem de fato produz, muitas vezes esquece de dizer o que fez, como fez e quando fez. Mas o fato é: fez. Quem só fala, tem dia, hora e lugar marcados de tudo. Mas, engraçado, somente da falação. Se perguntar: 'Tá e daí, me mostra', vai gaguejar, titubear, desconversar e vazar, como se diz no popular.

O falador também tem grande habilidade para reclamar de quem faz. Se você está quieto no seu canto, ótimo. Ele ou ela não vai engolir um milímetro de saliva ou destilar nenhuma gota de veneno contra você. Mas se o radar do língua-de-trapo detectar qualquer ação sua que tenha real impacto, pronto, está declarada a guerra. Uma verdadeira caça às bruxas será instaurada. 

O falador é movido pela inveja e pelo despeito. Não tem competência para fazer quando comissionado, mas tem um motivação mórbida para tentar estagnar quem produz e surge no seu caminho. A função do falador é vivida com certa voracidade porque, se deixar de falar, reclamar, condenar, injuriar, difamar, o que vai fazer? Nada. Porque não sabe fazer nada! Tudo que lhe cai às mãos definha. Tem o mesmo poder de praga no campo que extrai das árvores o alimento alheio para se reproduzir e se espalhar.

Apesar disso tudo, acredite: os faladores não são a maioria. A maioria mesmo tem tanto para fazer que não tem tempo de reclamar. Erram muitas vezes por não se expressarem. No entanto, não o fazem por maldade. Isso ocorre porque, quando sabem de algo errado simplesmente se levantam, ajudam a corrigir e seguem suas jornadas. Estes, sim, são maioria. Ainda bem.

Pausa para um brinde

Por causa da minha educação religiosa, não tenho o hábito de ingerir nada alcoólico. Contudo, isso não impede de fazer um brinde ao menos com um refrigerante ou, só para ficar bem perto do vinho, um suco de uva. No brinde de hoje, quero render uma homenagem especial à cidade que me recebeu há quase 18 anos e pela qual tenho a possibilidade de trabalhar há 10 como funcionário no Departamento de Comunicação da Prefeitura. Como na quarta-feira, dia 21, a cidade completou seus 47 anos, o mínimo que posso fazer é isso, uma vez que não posso dar à cidade os presentes que gostaria.

Ao longo destes 6 anos como colunista, raríssimas vezes reportei-me diretamente à função pública e também pouco abordei temas que muito de perto me afligem em algumas situações. Devo confessar, abertamente, que em alguns momentos de erro na leitura dos fatos, cheguei a ficar bastante irritado com as ações de algumas pessoas que embotam qualquer espírito cívico.
Hoje, porém, quero destacar o que há algumas semanas tem mexido com minha cabeça e, por que não confessar, tem tratado o meu coração. Se para alguns ou mesmo para muitos isso parece meloso demais, perdoe-me, mas é assim que sinto e é assim que digo.

Na minha locomoção rotineira pela cidade, em uma bela manhã de sol, descendo o viaduto que liga as partes alta e baixa da cidade parei no meio, dei um giro de 360 graus e uma onda de emoções e recordações encheu minha mente.  Naquele instante, confesso que senti um orgulho, prazer, alegria, euforia, vibração, enfim, fui tomado por uma nova percepção de fatos e, mais importante, renovou minha percepção das pessoas de Campo Limpo Paulista.

Nesta percepção passei a ponderar que, assim como eu, que não nasci aqui, há milhares de pessoas que também vieram de Guarulhos, Bragança e outras regiões da Capital. Muitos escolheram morar aqui para poder ficar livres da poluição metropolitana. Sabiam que iam levantar cedo e chegar tarde, mas queriam ter um lugar que pudesse chamar de seu. 
Alguns conseguiram até inverter o sistema e passaram a trabalhar na região ou mesmo na cidade. Entretanto, independente do tempo que passam aqui, temos homens e mulheres que trabalham pela cidade.

E, trabalhar pela cidade, nem sempre significa estar na Prefeitura, na Câmara, na Polícia Militar, poder Judiciário ou equivalentes. 
Luta pela cidade quem sabe o que quer e como quer. Trabalha pelo lugar onde vive aquele que ao invés de falar aos ventos reclamando de tudo, busca soluções, faz a sua parte, palpita, se envolve, e mais que isso, se compromete. Ser cidadão, é mais do que fingir simpatia e forçar popularidade em ano eleitoral. Mas, reitero que não é desse grupo que quero falar. Meu louvor vai especialmente para uma população sonhadora e guerreira. 

Gente que sonha, mas tem os pés no chão e não nas nuvens. Nesta minha nova percepção do nosso povo, entendo que, infelizmente, a esmagadora maioria destas pessoas não tem tempo ou mesmo espaço para expressar o que sente, o que acredita e o que faz.

Nesta semana de aniversário, toda essa onda de emoções ficou ainda mais forte. Primeiro, ao longo do dia 21 tive o privilégio de manter contato direto, olho no olho, com dezenas de pessoas que foram visitar o novo hospital de Campo Limpo. Foi muito bom falar com homens e mulheres acima de 60 anos que com seu sangue, suor e lágrima construíram e continuam o seu labor em prol da cidade.
No início da noite, também do dia 21, a paixão cresceu mais um pouco quando vi centenas de pessoas com um pacotinho de leite em pó para participar da abertura da festa do peão. Com todas as ressalvas que se pode fazer à festa, sua real beleza e significado está na voluntariedade e solidariedade das pessoas. Por tudo isso, e por tantas outras coisas que não consigo expressar agora, rendo minhas homenagens ao povo que adotei como meu.

Eu me rendo (parte 2)

Diante da repercussão de minha singela homenagem à jóia da criação que atende pelo nome de mulher da semana passada, sinto-me no mais prazeroso dever de dar continuidade ao tema. 
Afinal, como alguém comentou no 8 de março deste ano, "dia da mulher é todo dia". É clichê, admito, mas é verdade. E, convenhamos, não é possível esgotar o tema nem mesmo com uma enciclopédia, muito menos com uma coluna de jornal.
Além da amplitude do tema, em uma pequena enquete detectei que a esmagadora maioria do meu grupo de leitores é composto por mulheres. Portanto, devo-lhes honra e gratidão, pois graças a elas estou "rasgando" mais de 270 semanas falando dos mais variados assuntos, suscitando as mais diversas reações, despertando atração e repulsa, mas, sobretudo, crescendo, aprendendo e, quiçá, sendo mais maduro.

Uma das minhas refinadas leitoras enviou, por e-mail, um feed-back que motivou-me a esta segunda parte da homenagem. Vou omitir o nome, mas deixo pistas de que é a mulher mais francesa que conheço pela 'chiquesa', inteligência, poder de articulação sem, contudo, perder a garra, o charme e força da mulher brasileira.
Essa minha leitora quase franco-brasileira apontou o embate hercúleo que a mulher pós-moderna precisa travar consigo e com as suas múltiplas relações na busca por equilíbrio. 

Em suas palavras: "Acho, que para nós, mulheres neste tempo de pós-modernidade, o mais difícil é vencer todas as dificuldades, escapar de todas as armadilhas, cumprir todos os compromissos e lutar contra todas as desigualdades e conseguirmos manter nossa essência feminina. É ai que entra a gentilíssima presença masculina para nos lembrar que tudo tem um equilíbrio. Tudo tem muitas versões e nem tudo deve ser levado a ferro e fogo como nós, mulheres, temos tendência a levar."
Claro que ler "gentilíssima presença masculina" deu uma pontinha de vaidade, diria até que orgulho. Mas, nada que cause a abertura da calda do pavão. O que quase mudou a situação foi o comentário a seguir: "sobra ao homem, hoje, uma característica que a vida moderna retirou da alma feminina: a impressionante vontade de crer na humanidade, coragem de se entregar, dignidade de renunciar por amor".

Uma leitura superficial provocaria o mero orgulho, uma jactância gratuita. Contudo, um olhar mais atento vai revelar, no mínimo, o tamanho da responsabilidade que, a bem da verdade, nunca  deveria ter sido postergada ou até mesmo transferida.
Minha celebridade secreta ainda complementou o desejo das mulheres: "o que desejam mesmo é o equilíbrio e a serenidade que só o respeito e a parceria entre gêneros pode produzir". Eis aqui o tamanho da bronca: parceria entre gêneros.
É bacana dedicarmos um dia para a distribuição de jóias, flores, cartões e, se a grana estiver curta, presentear com as temidas, porém, desejadíssimas caixas de chocolate. Contudo, a responsabilidade masculina vai muito além do que deferências em um dia qualquer.

Segundo o livro de Gênesis, Deus fez a mulher e a apresentou a Adão como sua ajudadora. Embora o sexo frágil não seja tão frágil assim, afinal eu não teria a menor coragem de dar à luz, cabe aos homens entender que as mulheres foram postas como auxiliares e não como capachos, serviçais ou coisa que o valha.
Somos parceiros. Isto posto, não é inteligente, não é humano e também não cumpre o projeto divino agirmos como se cada um tivesse que andar para um lado. Essa parceria se estabelece nos mais elementares detalhes. Cumprimos nosso papel como homens, com excelência, quando nos empenhamos para servir nossas mães, esposas, filhas, sobrinhas, sogras, colegas de trabalho. Enfim, vale todo empenho, entrega, renúncia, abnegação e, se necessário, até sacrifício para fazer valer esta parceria entre os gêneros.

Eu me rendo

Esta semana, ao refletir sobre o que dizer para as mulheres, indaguei aos meus botões o que elas, eventualmente, gostariam de ouvir como homenagem. Uma vez que elas são um mistério à parte neste universo de meu Deus, a falta de uma resposta objetiva é natural. Afinal, elas, definitivamente, não são uma equação ou mesmo a mais elementar operação aritmética. Nem a compilação de todos os artigos filosóficos, sociológicos, antropológicos, teológicos, biológicos ou de qualquer outra ciência que ouse examinar esta criatura será capaz de chegar a um termo final.
Só o fato de serem multifuncionais complica profundamente as possíveis definições. Ser mulher vai além de ser diferenciada pela mama ou pelo aparelho reprodutor. A capacidade de carregar uma nova vida no próprio útero é um milagre sempre fascinante, diria até que embriagador. E, se, por qualquer motivo, elas não podem gerar filhos biológicos, a capacidade de gerar filhos espirituais é outro fenômeno.
Ainda que alguns ostentem, com louvor, o título de idiotas por tentarem menosprezar a mulher, o passado denuncia-lhes a dependência absoluta justamente do sexo frágil. Não fosse a ação da desprezada de então, teria morrido de fome e sede. Nem vou entrar nos maus odores e imundície que o valentão de agora ficaria caso a mulher se recusasse a trocar suas fraldas. Não é à toa que os seres humanos, dentre os mamíferos, são os que mais tempo precisam dos cuidados maternos.

Fato é que desprezar as mulheres é idiotice. É sintoma da inanição da alma e limitação absoluta da mente. Eu, dentro das limitações masculinas, simplesmente me rendo. Desarmo-me por completo diante do potencial deste ser que, sem nenhum exagero, sempre causa-me surpresa.
O poder de foco como esposa, a firmeza como mãe, a perspicácia como profissional são elementos que obrigam-me a estar curvado diante de sua majestade: a mulher. Retomando meu questionamento da abertura, confabulo se o velho "obrigado" bastaria. Tenho certeza que não! Contudo, é o único verbete oferecido pelo Aurélio e dele faço uso. Obrigado por se permitir ser um instrumento tão poderoso de expressão do cuidado de Deus.

Isso é tão relevante que o próprio Autor da Vida, por meio de uma profecia, argumentou: "Porventura pode uma mulher esquecer-se tanto de seu filho que cria, que não se compadeça dele, do filho do seu ventre? Mas ainda que esta se esquecesse dele, contudo eu não me esquecerei de ti." (Isaías 49:15). É bem verdade que há exceções, mas a sublimidade e importância da mulher é tamanha que serviu como ilustração para uma palavra profética. Isso não é algo para se minimizar.

Apesar do solitário "obrigado" ser um verbete obrigatório, ele tem menos importância que a comunicação expressa sem palavras. Neste tempo, definido por alguns teóricos como pós-moderno, as palavras se multiplicaram. Escrevemos muito e lemos pouco. Falamos à exaustão e não nos ouvimos nada. Por isso, acredito que a comunicação dos atos sempre estiveram e estarão acima das palavras. Não faço aqui uma defesa pelo não registro. Precisamos dele para a posteridade. Mas as pessoas que nos cercam, hoje, agora, precisam de ações.

Que nossas mulheres multifuncionais possam "ouvir" as ações de maridos, filhos, irmãos, pais, amigos, colegas de trabalho, vizinhos, sócios, tios, cunhados, enfim, que possamos comunicar a reverência, respeito e, sobretudo, amor por esta jóia da criação que atende pelo título de mulher.
Que pelos nossos atos elas "ouçam" sobre a importância que têm, sobre a dependência que delas temos. Que nossas ações sejam uma forma de retribuir-lhes todo conforto, ânimo, fortalecimento que sempre nos fazem sentir a cada abraço, a cada beijo, a cada olhar. Que o som das palavras seja apenas para fazer arranjo em uma sinfonia muito maior orquestrada pelo amor e marcada pelo brilho e força de um coração verdadeiramente agradecido.

 
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