A vida alheia

Há grande diferença entre 'importar com' e 'cuidar da' vida alheia
 
Há alguns anos ouvi um amigo dizer para outro: "Escolhe a raça" (ele referia-se à raça de gato). Curioso com o significado da expressão passei a prestar atenção no papo. A continuação foi: "Assim, você cuida das sete vidas do gato e deixa a minha em paz".
Evidentemente, a brincadeira foi entre amigos e feita com muito bom humor. No entanto, se a estória das sete vidas do gato não fosse uma fábula, seria bastante interessante dar um gato de presente para cada pessoa logo ao nascer. Deveria ser um bicho de estimação de uso obrigatório.

Contudo, o pobre gato tem apenas uma vidinha muito breve. Resta aos humanos, então, o aprendizado de não cuidar da vida alheia por outros meios. Sou adepto confesso da filosofia de importar-se com a vida alheia. No entanto, existe uma profunda confusão entre importar e cuidar. E, a menos que eu seja um completo idiota, existe grande diferença entre um verbo e outro.
Em linhas gerais, quando damos importância a algum assunto, isso significa que temos interesse nele. Já quando cuidamos, isso quer dizer que estamos tomando conta. Ora, se aplicarmos esses conceitos à vida do vizinho, fica fácil  entender a diferença.

Quando me importo com a vida alheia, demonstro interesse em saber porque meu próximo chora ou o que lhe causa alegria. Posso procurar saber se tem alguma forma de ajudar. Quando me importo, e faço isso de modo sincero, a primeira reação que tenho é da compaixão. Isto é, me solidarizo com o meu próximo e sofro com ele sua dor, ou então, celebro sua festa como se fosse minha.
Quando me importo com as pessoas, estabeleço um canal de comunhão. Isso não significa que vou passar a comer sal no mesmo prato e dividir o cobertor. Significa tão  somente que posso desenvolver as relações sociais com a força, beleza e vitalidade que o Criador projetou.

Importar-se com a vida alheia é conseguir cumprir o que preconizou o apóstolo Paulo: "Alegrai-vos com os que se alegram; e chorai com os que choram" (Rm. 12:15).
Agora, cuidar da vida alheia é exatamente o oposto disso. O cuidador da vida dos outros tem o hábito nojento de espiar pelo buraco da fechadura. Quer invadir a privacidade, controlar os passos, determinar os atos de tantos quanto possa.

Em geral, o cuidador da vida alheia é um desocupado que finge ter muitas ocupações. Cria uma aura de quem tem muito o que fazer, mas, na verdade, sua grande missão é bisbilhotar.
As pessoas que nos cercam não precisam de palpiteiros de plantão. Elas só precisam encontrar um ombro amigo, um ouvido atento. Nem é preciso ter todas as respostas, pode até ter tantas perguntas quanto elas, o que realmente precisam é que queiramos viver em comunhão e darmos a cada um o reconhecimento do seu devido valor.

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