Resposta a Renato Russo

Certo colega publicitário postou um comentário sobre a pergunta do cantor e compositor Renato Russo (1960 - 1996) "Que país é este?". A composição do roqueiro é datada de 1978 e foi gravada no terceiro álbum do grupo Legião Urbana, lançado em 1987. 
Infelizmente, os questionamentos de Russo são válidos e pertinentes, tanto agora quanto o foram no período da Ditadura Militar (1964 a 1985). Após 27 anos, fico a imaginar como o compositor se sentiria ao reler ou cantar pela enésima vez os seus versos que dizem: "Nas favelas, no senado / Sujeira pra todo lado / Ninguém respeita a Constituição / Mas todos acreditam no futuro da nação".

Russo só errou quando escreveu sobre o desrespeito à Constituição". Isso porque o nobilíssimo empresário (sic!) Carlos Augusto de Almeida Ramos, o tal Carlinhos Cachoeira, afirmou aos membros da CPI: "Ficarei calado como manda a Constituição". 
Ora, que espírito cívico tão nobre! Fiquei comovido com tanta dignidade, honra e superioridade daquele demente!
Ou será que demente sou eu? Talvez o seja. Estou mesmo pensando em me submeter a uma avaliação psíquica, pois não devo estar muito são do juízo por acreditar em meu país e sonhar com algo que seja qualquer coisa menos desgraçada do que este circo de horrores que estamos assistindo.

Embora meio lesado, ainda tenho como fator de lucidez o entendimento de que o país que sonho e pelo qual trabalho não vai ficar pronto antes dos meus olhos se cerrarem para sempre. Quiçá os netos dos meus filhos, talvez, vejam isso. 
Refletindo sobre o questionamento e afirmações de Russo, acredito que muito do que nosso país se tornou é pela omissão da minha geração. Muitos de nós adotamos o discurso do 'não tem jeito' e entregamos o ouro a bandidos. Outros tantos, defendem a anarquia, ausência de qualquer poder constituído, como a solução imediata. 
A pergunta de Russo tem resposta: este é o país que deixamos vagabundos governarem. Este é o país no qual muitos jovens, a quem competem a reivindicação, a luta, a contestação, reivindicam apenas por boteco aberto de madrugada para encher a cara. 

Este é o país que nossa geração permite que os veteranos, e apenas eles, digam que não sabemos, que não podemos e que não faremos. Sinto-me vergonhosamente acomodado, acuado, acostumado a chorar, ao invés de lutar.
Acredito e defendo na união do vigor juvenil com a experiência de alguns poucos políticos íntegros e não exclusivistas. Ou seja, jovens e pessoas mais maduras engajados na construção da sociedade.
O país que queremos é exatamente correspondente ao país que fazemos. Recorro à máxima atribuída ao ex-presidente americano John F. Kennedy (1917 - 1963): "Não pergunte o que seu país pode fazer por você. Pergunte o que você pode fazer por seu país." 

Tenho refletido ultimamente que o eleitor que se valoriza tem boa memória e não tem preço. Entretanto, nossas massas sofrem de amnésia e valem qualquer saco de cal. Daqui há mais alguns dias teremos uma prateleira da corrupção sendo muito bem frequentada. O balcão da subserviência e ignorância será utilizado por alguns indivíduos que, no favorecimento estritamente pessoal, acreditarão estar em vantagem. 

Nesta relação putrefata entre político ruim e eleitor pior ainda, da prateleira da corrupção sai telha, bloco e areia, itens mais valorizados que habitação, segurança, educação, mobilidade, transporte, emprego, saneamento e asfalto.
Assim, o voto conquistado graças a sangue, suor e lágrima de tantos outros brasileiros honrados será, de novo, solapado na vergonha da corrupção que começa no quintal de casa, passa pela igreja, escola, ONG', casas de leis etc.
É possível mudar? Tenho certeza que sim. Mas a transferência de responsabilidades que compete a todos, sem exceção, precisa parar agora. Apesar de tudo, dentro da minha demência, acredito que não verei a plenitude disso, mas partirei com a consciência de que fiz o meu melhor.

2 comentários:

Paulo Alves Guanabara disse...

lendo seu texto me lembrei de uma frase de uma musica (SALVE-SE QUEM PUDER - DEXTER)
"todo mundo se comove, porém ninguém se move"

Rafael Tavares disse...

"O descontentamento é o primeiro passo na evolução de um homem ou de uma nação".

A frase do escritor irlandês Oscar Wilde, autor de "Retrato de Dorian Gray", serve como parâmetro. O problema é que o homem ou a nação nunca estão descontentes.

 
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