Virada de página política

O tema central desta coluna era para ser ou o último de 2012 ou o primeiro de 2013. Em função dos acontecimentos de Santa Maria-RS quase se tornaria o terceiro. Entretanto, como a tragédia tem cobertura exaustiva em todos os meios, registro apenas meu luto pelas vidas que perdemos e uno minha voz de protesto contra o jeitinho brasileiro que, no frigir dos ovos, será, de novo, culpado por mais estas mortes.
Meu cerne desta vez tem nome e lugar na linha do tempo da cidade. Trata-se do ex-prefeito Armando Hashimoto que exerceu dois mandatos entre 2005 e 2012. Não precisa susto, porque não estou com saudades.

No dia 1º de janeiro, após a transmissão de cargo, alguns selvagens com capa de cidadãos puxaram vaias ao ex-prefeito.Um ato inútil e tolo. Não concordar com as ações de uma pessoa e fazê-la saber de modo civilizado é um direito que assiste a qualquer um. Contudo, tentar impor condição vexatória escancara o raquitismo mental.
Bem pode ser que alguém dos seus leais vá entregar esta edição ou telefonar dizendo: 'Leu o que aquele bobo escreveu?'. Pois é. Devo mesmo ser um bobo, mas um bobo que pode se expressar.

Ao falar especificamente sobre o ex-prefeito, faço-o tendo como know-how o fato de ter trabalhado nas suas duas gestões, além de contato anterior principalmente em campanhas eleitorais.
Por diversas vezes escrevi matérias nas quais o ex chefe do Executivo municipal argumentava que estava trabalhando nos quatro pilares da administração pública: educação, saúde, infraestrutura (já elogiada por opositores) e saneamento.
Em linhas gerais, sua defesa era que se essas áreas recebem os investimentos necessários, a Prefeitura não fica condicionada apenas às pautas determinadas pela agenda político-eleitoral.

Na história da cidade, foram encerrados os capítulos de suas gestões, mas não o livro em si. Ao longo do enredo, quer eu admita ou não, os resultados de algumas das suas decisões administrativas serão colhidas por outros gestores.
Um exemplo disso é o próprio Hospital de Clínicas que se tornou infâmia e triunfo, ao mesmo tempo. Agora, os apedeutas vivem para criticar, pejorativamente, às dimensões do hospital. Pelo jeito, têm saudades do 'conforto e amplitude' presentes no antigo N. S. Rosário.
Contudo, o hospital parece grande hoje que, segundo  o IBGE, a cidade tem 74 mil habitantes. Quando tiver 100, 110, 120 mil bem pode ser que alguém o achará pequeno.

Em linhas gerais, o ex-prefeito tomou decisões inadequadas sob o prisma político por comprometer sua popularidade (que já não tinha). Entretanto, os desajustes políticos foram pautados por fatores de gestão cujos méritos foram, são e serão negados pelos obtusos que invejam qualquer êxito de quem lhe é contrário.
Cito como exemplo a criação do programa de bolsas para a faculdade (garantido até 2017) e o auxílio-transporte para alunos de cursos técnicos e de nível superior fora da cidade que, felizmente, estão garantidos por força de lei.
Assim, os incentivos não ficam a mercê da benemerência política, mas são uma conquista do cidadão, independente de sua ideologia. Podem ser melhorados e ampliados, mas não extintos.

Muito embora Hashimoto tenha delineado uma linha de governança auspiciosa com vistas ao futuro, faltou-lhe clareza de que as pessoas, independente de suas atribuições, quer sejam garis ou empresários, preferem ser convidados a participar e, não, intimadas a cumprir a vontade deste ou daquele.
O ex-prefeito começou em 2005 no 'achismo' de que seria possível controlar 100% da cidade, leia-se Prefeitura. Passou a aferir a compra de um prego, mas desmotivou as pessoas a darem o melhor de si.
Mesmo no fim do seu mandato, deixou claro não ter aprendido a lição de que uma cidade não é uma máquina, mas um organismo vivo em constante mudança. Algumas de suas decisões tinham o cheiro, a forma e a consistência que somente a arrogância impõe.
Quando as insatisfações se faziam ser ouvidas, nunca admitiu, ao menos não publicamente, alguma parcela de culpa. Pelo contrário, aliou-se com gente de péssima índole para atribuir responsabilidade aos secretários, diretores e coordenadores. Os mesmos que eram por ele privados de qualquer autonomia.

Em 2006, diante de uma plateia no Teatro Municipal, afirmei que havia votado nele por causa da indicação de ninguém menos que Luiz Antonio Braz. Ocorre, porém, que se hoje o mesmo Braz o indicasse para síndico de condomínio, eu não o escolheria.
Implicância minha? Não. Apenas prudência para não delegar poder a quem não deixou evidente que não o soube usar. Embora tenha declarada rejeição ao comportamento do homem Armando, pelo bem da minha própria dignidade, não posso desmerecer as suas escolhas na gestão da cidade. Bem, a página virou, mas a história continua.

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