Meu tamanho real

Durante a folia de Carnaval, enquanto um percentual expressivo da população brasileira se permitia extravasar algumas paixões, pude viver, pelo terceiro ano consecutivo, um tempo de muita correria, exaustão mas, sobretudo, de muita alegria.  Participei da 22ª Conferência Missionária (clique aqui para saber mais) realizada pela Assembleia de Deus de Jundiaí, no Parque da Uva. A festa acontece para incentivar a reflexão sobre a obra de evangelização (um dever da igreja), além de ser uma forma de prestar contas aos que contribuem com o envio das 15 famílias de missionários presentes em 10 países sendo: Brasil (Acre), Argentina, Peru, Estados Unidos, Canadá, Espanha, Portugal, Holanda, Guiné-Bissau e Japão.

Desde que conheci o evento em 2005, o inseri como atividade obrigatória. Contudo, apenas a partir de 2010 dei um passo a mais com relação a ele.  Passei a me voluntariar para contribuir, ainda que minimamente, com todo o gigantismo da festa. Só para dar uma dimensão, os três pavilhões do Parque da Uva ficam ocupados. No central, que é o maior, acontecem os cultos, os laterais abrigam a Feira das Nações com pratos típicos da tapioca a yakissoba.  Com isso, a conferência mobiliza, em média, 6 mil pessoas por noite. Assim, tranquilamente supera a marca de 20 mil pessoas nos quatro dias quando são realizados seis cultos e ministradas oito preleções.

Para que toda a logística funcione ainda existem a equipe de recepção composta pela ala jovem da igreja, mais de 100 voluntários este ano. Tem os cooperadores e diáconos, os intercessores na sala de oração, as professoras da conferência mirim –mais de 30 voluntárias que cuidaram com carinho das mais de 200 crianças atendidas cada noite. Contamos, ainda, com seguranças, equipe de cozinha, integrantes das barracas, stand da juventude, entre outras frentes de atuação.

Este ano, em especial, tive uma percepção clara do meu real tamanho no meio daquilo tudo. À medida que fui me voluntariando na produção do evento, ganhei algumas funções com as quais não contava. Comecei como fotógrafo, ajudante de faxina, carregador de cadeira, limpador de mesa, e, nos últimos dois anos, fui presenteado com o privilégio de participar da equipe musical.Nesta edição, quando nos aproximamos das últimas 24 horas antes do evento ser iniciado, um misto de alegria e tensão assaltou-me o estômago. Mais que frio na barriga, deu arrepio e gelo completo até o último fio. Esta percepção foi provocada pelo flash-back que a mente insistia em fazer involuntariamente.

Na véspera da abertura, estávamos reunidos no local para o último ensaio geral. Éramos cerca de 90 pessoas que compunham coral e banda, além de um elenco com cerca de 100 integrantes, e orquestra com cerca 30 integrantes, mais uma equipe de bastidores que garantia a calma e confiança dos que vão para a linha de frente. Quando comecei a contabilizar tudo, enquanto o corpo tremia e a mente viajava, percebi quão mínimo era no meio daquilo tudo. Isso porque, ao observar atentamente todo o trabalho, a gente percebe que, de fato, sozinho é impossível fazer qualquer coisa. Nem mesmo a honra de ser narrador na cerimônia de abertura aumentou minha vaidade. Isso porque, não fosse a voluntariedade e soma de esforços de todas as pessoas, nada seria possível. Ao final, houve um reconhecimento geral por parte do público que assistiu. Mas a beleza de tudo esteve na união dos talentos individuais.

Cada pessoa que se dispôs a vestir uma roupa típica de dez nacionalidades. Cada corista que aprendeu frases musicais em hebraico, sueco, inglês, holandês, espanhol, japonês e até português com sotaque de Portugal. Cada músico que se esforçou na leitura e execução das partituras. Somente esta soma de contribuições tornou tudo realizável. Como reforço de aprendizagem, no último dia do evento, chorava como uma criança e nem podia falar. Como forma de gratidão, apenas abraçava, em silêncio, as pessoas com quem tive a honra de viver este momento.Inseri na linha do tempo de minha vida uma experiência marcante e absolutamente prática de um texto bíblico que é atribuído ao próprio Criador: "Eis que o povo é um, e todos têm uma mesma língua; e isto é o que começam a fazer; e, agora, não haverá restrição para tudo o que eles intentarem fazer." (Gn. 11:6)

Ora, se o próprio Deus reconhece o potencial humano, especialmente, nos atos coletivos, porque é tão comum encontrarmos os que se acham autosuficientes? Para não encerrar falando de gente minúscula, quero deixar meus agradecimentos a todos que de perto ou de longe, íntimos ou não, tornam minha existência potencialmente mais rica e mais útil
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1 comentários:

Leandro Malvesi disse...

Parabéns Emanuel, nosso querido desbravador de mares hereges, com a escrita fazendo percursos que talvez seriam inalcançáveis por meios orais.
Deus continue abençoando.

 
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