A BENÇÃO DO TRABALHO


Não sou nenhum grande entusiasta pelo 1º de maio. Para mim, trata-se de mais um momento em que a velha fórmula romana do "pão e circo" é usada em larga escala. A data é oportuna para que os sindicatos, em especial, com suas lideranças que odeiam alternância de comando, tentem mostrar o que jamais conseguiram fazer.

Em um contexto social saudável, os sindicatos já foram (ou deveriam ter sido) o espaço de expressão dos anseios de suas respectivas categorias. Seria o lugar que garantiria a segurança para que colaboradores de uma empresa reivindiquem a participação nos lucros, sem que isso se torne um martírio com supressão de horas extras, redução de benefícios ou coisa que o valha.

Todavia, dado o estado de enfermidade social crônica que nos encontramos, o que deveria ser espaço para a promoção de grupo, hoje é muito mais plataforma para venda da imagem de pseudo-salvadores da pátria. Basta olhar a lista de candidatos nos pleitos municipais, estaduais e federais. É um tal de 'Vote no Quincas - Sindicato das Botas' ou 'Esse faz e acontece - Sindicato dos Penicos'. 

Não demora, teremos o Sindicato dos Defuntos. Como será a manutenção do caixa que garante tudo aos dirigentes e entrega o nada aos sindicalizados? Aí, de novo, vai ficar com os vivos. Será um sindicato com a propaganda: 'Pague agora, para que lutemos por seus restos depois'. Ou, 'Inicie seu plano de representação pós-morte. Vamos garantir que seu título de eleitor seja sepultado com você'.

Ironias à parte, ainda que tenha pouca afeição pelo se faz em torno do Dia do Trabalhador, entendo que é preciso refletir na relevância do trabalho. 
Mais que comemorar alguma eventual conquista ou lamuriar-se por direitos que alegam cerceados, acredito que deveríamos refletir mais e melhor no que somos enquanto mão de obra economicamente ativa.

Tinha um grupo de colegas de trabalho que sempre me ouviam reclamar de uma pauta: aposentadoria. Fiquei louco? Não. Reclamava porquê, à época, se tratavam de pessoas que estavam com corpo de 30 (condição atual), pensando como já tivessem um corpo caquético de 100. Não raro, pedia para mudar o rumo da prosa ou me ausentava. 
Sabe aquelas contas do 'quanto tempo falta para eu parar de trabalhar'? Sempre achei isso deprimente. Se ficamos nesta expectativa pelo dia que vamos 'parar de trabalhar', somos enlaçados por uma gama de coisas que nos impedem de sermos o melhor possível agora.

Querer se aposentar para "parar de trabalhar" é um objetivo pobre. Fica parecendo que o trabalho não é uma benção. Chega a soar como se fora uma maldição. Não raro há pessoas afirmando que Deus "castigou" Adão e Eva com o trabalho, após comerem do fruto proibido. Errado. O acréscimo na rotina de Adão foi comer a partir do "suor do seu rosto". Porém, antes de desobedecer a ordem divina, eles lavravam e guardavam o Éden.

Isso posto, o homem já trabalhava antes de transgredir o único "não" dado pelo Criador. Infelizmente, por razões que não vêm ao caso agora, nossa cultura assimila o trabalho com a servidão, o ser escravo, ser explorado etc.
Entretanto, uma mente sã vai olhar para o trabalho como oportunidade de criar, cooperar, desenvolver, fazer crescer. Se encaramos assim, o respeito pela função do outro é uma das primeiras coisas que se instala nas relações de trabalho.

Isto é, o lixeiro não vai ser desprezado pelo advogado; o faxineiro não é desmerecido pelo administrador; o servente não é humilhado pelo engenheiro, pois todos percebem a relevância da sua função. 
Afinal, se eu não limpar o excremento do cavalo em sua baia, o hipista não terá um animal saudável para competir e não será campeão. Acredito que uma boa forma de comemorar seria reconhecermos o quanto precisamos uns dos outros.

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