Gestores públicos sazonais

A cada dois anos, entre os meses de julho a outubro, ergue-se no Brasil um exército de pessoas que aparece "do nada" com soluções para todos, absolutamente todos os problemas dos 5.563 municípios do País. 
O pequeníssimo intervalo de dois entre uma eleição e outra, infelizmente, é em função da divisão dos pleitos que definem em um, deputados estadual e federal, senador, governador e presidente da República, e, no outro, vereadores e prefeito. 

Por si só, essa divisão provoca entraves. Quando o pleito é nos âmbitos estadual e federal, existe uma correria para aprovar projetos, liberar recursos. Leia-se isso como colocar dinheiro na mão de prefeitos –via emendas de deputados estudais e federais– para cair nas graças do eleitorado.
Quando é municipal, também existe uma avalanche de obras. Basta olhar nas três cidades conurbadas ¬(Campo Limpo, Várzea e Jundiaí) que, ou lemos placas indicando obras ou vemos máquinas espalhadas.

No caso de Campo Limpo, cidade que conheço mais de perto, entre outras obras temos construção de duas creches (recursos federais), recapeamento e calçadas na rua Wilson Steffani –limite com Várzea– (recurso estadual – emenda do deputado Ary Fossen, último em favor da cidade antes de seu falecimento no dia 19 de julho).
A maior parte dos cidadãos desconhece as negociações para liberação de dinheiro. A bem da verdade, é uma complicação sem fim. Na prática, o que as pessoas querem é o posto de saúde perto de casa, a escola funcionando, o asfalto como tapete, a água na torneira, a conquista da casa própria etc. São sonhos simples e direitos legítimos.

Como muita gente ainda não conseguiu a realização de alguns desses sonhos, tem quem se apresente como o Mágico de Oz para a solução de todos. 
Seria cômico, não fosse trágico, que norte a sul do Brasil temos candidatos a vereador que vão resolver de uma vez por todas os problemas de todos os bairros de sua cidade. Da construção de casas à realização de exames o bordão é: 'vote em mim que eu resolvo'. 
Na minha inocência, quero acreditar que muitos falam e escrevem essas coisas apenas pela boa vontade de realmente contribuir com todos. Mas tem confusão demais no exercício das funções. 

Entre as funções dos vereadores está a de fiscalizar as ações do prefeito e ainda estar sempre atento às necessidades da população e sugerir soluções aos problemas que vão surgindo.
Além dos milhares de candidatos que aparecem com soluções mirabolantes, temos também alguns cabos eleitorais que, na ânsia de defender o seu candidato, acusam seus oponentes com toda sorte de argumentos. 

Tal qual seus candidatos, também têm solução para absolutamente tudo. Sabem como fazer tudo. Nada escapa ao olhar profundo de cada um deles (sic!).
Ora, senhores, considerando as necessidades do povo brasileiro não precisamos ser aguerridos apenas três meses a cada dois anos. Nossas bandeiras precisam estar em punho com mais constância. Precisamos ser menos personalistas e, verdadeiramente, republicanos, isto é, dedicados à coisa pública. 
Isso não é ação que atinge única e exclusivamente a autoridades eletivas. Somos politizados de verdade quando não jogamos lixo pela janela do ônibus, quando não esbanjamos água lavando a calçada, quando apagamos a lâmpada no ambiente vazio. Se frequentamos a reunião de pais e mestres nas nossas escolas, exercemos cidadania. Se vamos às audiências públicas realizadas pela Câmara ou Prefeitura, ainda que não tenhamos função pública, exercemos de fato e de direito o nosso título de cidadão.

Não precisamos de agentes públicos sazonais, ou seja, que surgem apenas em período eleitoral. Precisamos todos ter consciência da nossa importância para o avanço da comunidade independente de sermos eleitos ou eleitores.

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