Cidadania, cultura, consciência e afins

Esta semana fui assaltado. Calma! Não no sentido de levarem alguma coisa. O assalto que sofri foi em um outro significado da palavra: acometimento repentino e em tropel.
O que houve? Uma avalanche de percepções sobre o mundo que nos cerca, especialmente, as relações humanas em diversos nichos sociais.

Em uma síntese pouco romântica, contudo, bem realista, percebo um interminável jogo de poder. De modo consciente ou inconsciente imitamos cachorros que fazem xixi no poste para dizer que passaram por ali e que é melhor tomar cuidado.
No meio disso tudo, ainda há o lirismo da vida que nos assedia e tenta, às vezes sem sucesso, nos impingir algum colorido na caminhada cinzenta. A poesia, a prosa, os versos e orações cheios de adjetivos e sonhos vão concorrendo com atos e fatos de horrores indescritíveis.

A Bíblia aborda uma batalha entre o homem interior e homem exterior. Enquanto o invisível quer coisas boas, honestas, agradáveis, perfeitas, louváveis, amáveis, afáveis, o visível é do contra e gosta mesmo de coisas corruptíveis.
Esse duelo se manifesta na família, na escola, na igreja, no trabalho, na vizinhança. Por esta batalha intensa e ininterrupta justificamos nossas ideologias, escolhemos com quem andar, de quem afastar.

Pela nossa própria natureza limitada em poder (ainda bem) e, finita (felizmente),  erramos sucessivas vezes. Entre tombos e soerguimentos, aprendemos.Ou ao menos deveríamos fazê-lo.
Talvez muito de tudo isso seja decorrente do meu aniversário de cidadania campo-limpense. Neste sábado, dia 1º de junho, completo 19 anos palmilhando estas paragens.

Olhando para trás, vejo que foi por cá que fiz-me cidadão do mundo. Aprimorei minha consciência. Defini profissão. Encontrei tesouros que são chamados de amigos. Foi aqui que aprendi a lutar, gritar e, em alguns casos, também fazer xixi no poste. Especialmente quando tentavam me diminuir por não ser paulistano de nascimento.

Em meio a todo flash-back, no domingo, estava trilhando um ermo entre Jundiaí e Várzea Paulista quando um playboy abriu a janela do carro e jogou um maço de cigarros no meio do cruzamento entre três logradouros. Fiz questão de publicar foto no meu perfil do Facebook.

Ao ver ações assim, assaltam-me desde os instintos mais violentos a convicções políticas inflexíveis. Como ex-servidor municipal, sou irredutível na cobrança de responsabilidades dos governantes em todos os poderes e em todas as esferas para que lixo seja descartado com responsabilidade.

Contudo, somos prolixos nos discursos e pífios nas ações. Depois de muito digerir a cena do playboy, disse a mim mesmo que, como cidadão, tenho direito a coleta de resíduos na porta da minha casa, mas tenho o dever de acondicionar corretamente o lixo para ser recolhido. Tenho o direito de ter meu patrimônio preservado de enchentes, mas tenho o dever de jogar o lixo no lixo.

Como nem tudo é revolta, pude higienizar a mente na segunda-feira à noite, expondo-me a ouvir uma poderosa produção artística que definimos como "cultura". Assisti com os olhos e ouvidos da alma a apresentação da Yale Symphony Orchestra, dos Estados Unidos, em apresentação única no Polytheama.

Foi o tipo de noite para tomar banho de esperança por ver meninos e meninas que mostravam-se embevecidos em suas expressões faciais que pareciam falar com o mover das sobrancelhas, o prender dos lábios, o movimento sutil do corpo junto com os instrumentos, enquanto executavam seus acordes.

Além de ser uma viagem para os ouvidos, a presença de palco deles foi como um quadro que, a despeito das roupas sóbrias (sempre preto), ganharam, ao menos para mim, um colorido que só pode ser percebido com os olhos da alma.
Quiçá eu chegue a ficar velho e consiga perceber mais vida que caos. Mais amor que ódio. Mais paz que guerra. Afinal, isso também é uma questão de escolha.

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