A Democracia e eu

Por Emanuel Moura
 
Graças às eleições municipais e a toda panacéia iniciada até mesmo um ano antes do tal pleito, a Democracia está em estado terminal na "minha UTI". Ela se contorce no meu consciente, graças a gente boçal que sobe em palanques pra dizer em prosa e verso que se o povo tem fome, ele será pão; se tem sede, será água; se tem frio, será cobertor; se não tem onde morar, será abrigo; se falta segurança, ele será a própria Lei assegurando a liberdade e justiça para todos.
 
A demagogia, companhia obrigatória no ir e vir dos profissionais da política, provoca-me um misto de nojo, revolta, vergonha e culpa. Culpo-me por tantas vezes ter que me condicionar a ouvir, e não responder, acatar, e não denunciar, calar, e não gritar. São opções que, no meu subconsciente fazem surgir uma profunda vergonha, por admitir minha covardia. A culpa vem por perceber que, graças às minhas escolhas, contribuo para que a massa de eleitores –pobres, desinformados e analfabetos política e funcionalmente– continuem na condição de massa burra que entrega o poder a quem paga por último pelo voto e, assim, recebe diploma de governante para o Legislativo ou  Executivo das cidades atrasando a vida de todos.
 
Espero, sinceramente, conseguir dar uma sobrevida à Democracia dentro de mim. Ainda não sei como, mas estou disposto a tentar. Apesar das eleições ainda significarem apenas um jeito fácil de ganhar a vida para quem não tem competência de fazer qualquer outra coisa, quero permitir um voto de confiança de que esta seja, de fato, a melhor maneira de dar ou tirar o poder governamental das mãos de alguém. Apesar de acreditar nisso, costumo não delirar e, pela lucidez, conformo-me com o fato de que isso vai demorar. Só não quero partir o fio de prata com a consciência pesada por não ter feito nada para esclarecer a pelo menos um amigo, colega, parente, superior ou subordinado sobre a necessidade de se ter uma consciência política.
 
Para dar esta parcela de contribuição com o intuito de ser um cidadão menos pior, preciso optar por alguma bandeira que parece tremular no horizonte. Tenho plena certeza que, já há algum tempo, o rigor de pertencer à esquerda ou direita é coisa do passado. Faltam convicções plenas. Falta fidelidade a uma causa. Falta fidelidade a si mesmo. O que realmente importa é o poder a qualquer custo. Ainda que para alcançá-lo seja necessário negar crenças, ignorar convicções. Mas, como na tal Democracia entende-se que somente o conflito permite seu avanço, preciso estar de algum lado da arquibancada. Por isso, fico do lado do que chamam de direita, neoliberal entre outros rótulos. Se é o melhor lado? Para mim, hoje, é apenas mais um lado. Contudo, fico na tal direita, porque nunca apreciei a postura dos integrantes da tal esquerda.
 
Uma das questões mais irritantes, ao menos para mim, é o jeito de ser "esquerda": vale ser contra, dizer que está errado, mas nunca sabe dizer, concretamente, qual é o certo. É bem verdade, que a tal direita também "diz ser do contra" apenas para mostrar que pensa diferente, mas no fim, acaba não sabendo o que seria melhor. Especialmente no caso do Brasil, a esquerda deu provas cabais que todo o discurso do contra era apenas um jeito de chegar ao poder. Estando com ele na mão, mudou tudo o que dizia, e pior, não soube nem imitar os rivais na arte do 'politicar'.
 
Mantenho-me cônscio que na tal direita tem mentiroso, boçal, demagogo com fartura. Vejo na direita todo tipo de patologia social como vejo na esquerda. Porém, como integrante da direita, quero ao menos tentar, não ceder à contaminação e ter um grupo político-social para conseguir atuar. Fico com a direita porque, ao menos até onde consegui conhecer, pude apurar o fato da possibilidade de ouvir, argumentar, contra-argumentar, dar resposta, réplica e tréplica. É um lado que parece permitir um conflito na tentativa de acertar. Diferente da tal esquerda que, na minha análise nada científica, mantém a regra do manda quem pode, sem nenhuma possibilidade de contestação.
 
 

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