Indignação

Frequentemente sofro com os processos eleitorais. Os motivos para isso são vários: poluição sonora e visual, sujeira nas ruas, caixas de correspondências entupidas, papéis, promessas, picaretagem profissionalizada e outras mazelas que são justificadas como 'parte do processo democrático'.
A cada eleição, ao contrário do que alguns insistem em dizer, sinto-me remando contra a maré. Tenho a sensação de que ao invés de avançarmos no exercício desta tal democracia, tenho a nítida percepção de que paramos, ou, o que é pior, passamos a andar para trás numa velocidade incrível.

O pleito deste ano parece que está reforçando meu sentimento de fraqueza, impotência, indignação e, talvez, da minha própria incompetência como cidadão. Os motivos para esse caldeirão de sentimentos são múltiplos. Vejamos:
1) O número de artistas-candidatos multiplicou como nuvem de gafanhotos;
2) O horário para propaganda partidária no rádio e na TV se tornou um mega circo eletrônico, com figuras como Tiririca e o candidato do "peroba neles";
3) Tem até atriz pornô como candidata a deputada federal por São Paulo!;
4) A falta do mínimo de qualificação para os candidatos. É possível encontrar até analfabetos entre eles!

Quanto a este último tópico, sem nenhum exagero de linguagem, sinto subir um ardor pelo pescoço de tanta raiva quando lembro que não é preciso ter nenhuma qualificação para chegar a cargos que definem o futuro de milhões de pessoas.
Este ano, dos 19.458 candidatos, quatro são analfabetos; 109 apenas lêem e escrevem; 658 têm Ensino Fundamental incompleto; 1.427, Ensino Fundamental completo; 667, Ensino Médio incompleto; 5.245, Ensino Médio completo; 2.078, Ensino Superior incompleto; e 9.270, Ensino Superior completo. Ou seja, a maioria –mais de 50%– parou no meio do caminho quando o assunto era estudar.

Ora, para ser engenheiro, são necessários ao menos cinco anos de estudos, muitos livros e muitas horas de estágio com todas as comprovações possíveis. Depois de muito tempo como estudante ou estagiário explorado e muito dinheiro aplicado para tentar 'ser alguém na vida', o ganho médio de um engenheiro é de R$ 5.096,50 por mês.
Embora o Supremo Tribunal Federal tenha abolido a obrigatoriedade do diploma para exercer a profissão de jornalista, as empresas jornalísticas que são sérias vão continuar optando por profissionais que cursam ou cursaram Comunicação Social com enfoque em Jornalismo.

Ao contrário dos engenheiros, jornalistas e outras centenas de profissões que só podem ser exercidas por quem fez curso superior, pós-graduação, especialização, mestrado ou coisa que o valha, para ser deputado, senador ou presidente da República não é preciso estudar! É o caminho mais fácil para fazer um pé de meia sem ter que enfiar a cara nos livros.
Mesmo assim, o último aumento dos soldos dos legisladores nacionais, aprovado em 2007, determinou um aumento de 28,53%. Assim, o salário deles passou de R$ 12.847,20 para R$ 16.512,09. Eles ganham mais que o presidente da República que recebe R$ 11.420,21. Isso, sem contar outros valores que são para 'ajudar' o pobre legislador a fazer o que eles chamam de trabalho.
Cada congressista chega a custar R$ 100 mil por mês. Só para estimular o cálculo, é bom lembrar que são 513 deputados federais e 81senadores. Faça as contas.

Apesar de tudo, o que nos resta é estudar (e muito) para fazermos mais pelo país do que esses indivíduos que vendem competência, contudo, são a materialização da inoperância.
 

3 comentários:

Admilson Almeida disse...

Compartilho de sua indignação, companheiro Emanuel.
Não é por menos que houve a proibição das reportagens humorísticas envolvendo os candidatos. Seria muito material pra que os meios de comunicação comportassem.
Graças a Deus, que me livrou de ter que votar esse ano. "0000" seria meu número para todos os candidatos.

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Unknown disse...

Nobre amigo Emanuel, sempre que possível estou lendo e acompanhando seus textos.
Achei essa composição muito sugestiva, oxalá a mesma pudesse circular nos grandes jornais e nos mais variados canais jornalísticos.
Isso aguça a reflexão racional acerca do estado de "nossa política" e nos faz repensar os seus valores.
Será que existem?
Um grande abraço meu irmão!
Paz sobre sua vida!

 
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